terça-feira, 1 de janeiro de 2008



sou artista. porque a vida me chama. como um barco que veleja por entre parágrafos e passárgadas.
como peça. um anzol. uma promessa se enrodilhando na tábua de mares do rio que corta a cidade.
nasci na cidade que briga com o sol. faróis e latrinas. latidos. tetos cascudianos. e meu pai fiando uma bondade como a fala do povo que se veste de noite, e vai para o meio dos retalhos que as suas faces suplicam.
escrevo. para não morrer. falo. por volver. uma busca. uma bússola que se lança como gente surrupiando lentes, imagens e sombras. natal nos natais. cantigas nos quintais. uma esmola verbal? um curativo de f (r)ases que vai eletroentrechocando-se na lembrança de que tudo se espatifa. patifaria de verbos e putaria de esgotos. quadrilha que ladra e afana o afeto das pessoas pobres e corriqueiras. frases como uma crase grave que acusa a revolta da página em branco. vômito de sombras, como um volume de poesia que não escuta correção e coração.
uma ruma de sinais. gravetos e desobediência lingual. uma licença pedida entre uma palavra e outra. um lavoura de idéias e boleias carregadas de para-choques e descobertas.
uma coleta de lixo e léxico. como a diáspora de um vapor que pula letras, e ensaia a fala da rua, encorpada pelo eixo de uma multidão de pontos finais.
o mundo, parceiro, é uma deselegância de costumes. o que verdura, são as mãos femininas enrodilhadas de tanto querer.
Carlos Gurgel

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