domingo, 27 de janeiro de 2008


casebres são sempre pobres
como uma papoula pedindo esmola
como uma verdade sem escola
casebres são sempre pobres
uma enorme e apocalíptica torre
que se desmorona
casebres são sempre podres
parecidos com uma tosse que nunca finda
uma explosão da mais horrenda berlinda
casebres são sempre pobres
como uma língua sem linha
um trilho no meio da noite que não espana
um bosque de insuportáveis suspeitos
como uma boca que escarra uma fétida ferida
casebres são imprestáveis
não servem absolutamente para nada
eles não aparam o sol
a chuva ácida de colapsos de cápsulas
uma infinita máscara
como uma rosa que partiu
casebres não merecem respeitos
um mar de lama que perdeu o efeito
uma merda de declarado sujeito
casebres
são palmas, palmos de palhas
encharcados de tanto se crer
casebres não valem nada
são casas abandonadas
uma porção de alegria mofada
casebres que exalam sangue
uma ruptura de anos
que se alastra
por todos os ausentes
casebres são como ogivas
que parecem onde moram a serpente e o que sirva
como o choro de um ladrão de alma
casebres são faces de feses
uma sempre semente tão réptil
que desengana a mais óbvia
pulsação de um órfão
vômito, pele que expele
casebres já não sabem o que fazem
são só vapores
incandescentes
uma enorme prisão
que sufoca o suor de tudo que está preso
casebres são como bestas
tão destronáveis
uma adega de morte e noite sem fim
como o escuro de uma face que não fala
uma vala de uma vela que não atende
uma centopéia, a teia que trança
como facas que rasgam a fome
de quem ainda anda em órbitas
como nada mais importa
casebres são como casas sem caras
um monte de lágrimas
um charco de extremos
o limite que roubou a hora de
quem já não sabe mais
o que é dá no pé
tudo são só ruínas
casebres são como esquinas
lâminas tão finas
casebres são mufinas
casebres são muitas nicotinas
casebres são poças
partes de portas
a despedida
e um caminho sem volta.


Cgurgel

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