segunda-feira, 27 de abril de 2009


LAVOURA

quando escrevo
sobrevôo o sonho
de um novo tempo

e colho
o olho do mundo que me vê
como lágrima virada

semente
sombra de uma árvore tão boa
vida da folha que cresce

fruto
do que a vida me pega
livre do verbo que pousa.

Cgurgel

BIPOLAR

entre a corda
e a canja

entre a horda
e o samba

entre a borda
e o bamba.

Cgurgel

FÁTUO

tal qual pasto
eu me afogo

estou distante
das nuvens e de mim

o que importa
são os vôos dos pensamentos.

Cgurgel

BENDITO CRAZY

Um bocado de psicodelia, com um tanto de mod, uma xícara de jovem guarda, um litro de tropicalismo, duas colheres de sopa de folk, mais um pouco disso e daquele outro, numa mistura de Beatles, Mutantes, Syd Barret (Pink Floyd), Tom Zé, Kinks, Caetano, Dylan, João Gilberto... Coloque tudo numa forma nascida em Porto Alegre, no dia 26 de janeiro, de 1968 e deixe amadurecer até os anos 90 do século XX da era cristã. O resultado é um ser inusitado chamado Jupter Apple, que já foi Júpiter Maçã, antes Woody Apple (Ops, não é parente meu não!), mas que foi batizado como Flávio Basso e hoje voltou a ser chamado de Júpiter Maçã. Estranho e metamórfico cujo trabalho musical (nas horas vagas ele, também, se aventura como cineasta) mistura todos os ingredientes citados acima, tendendo mais para um estilo ou para outro, sendo ora uma coisa, ora outra, ora nenhuma, nem outra. Complicado né? Neste caso a máxima de Tom Zé cabe muito bem: “eu to te explicado que é para te confundir, eu to te confundindo para te esclarecer”.
O nosso cítrico amigo tem história nas trilhas do rock gaúcho com passagem pelo TNT (anos 80) e no Cascavelletes (1987 – 1991). Depois disso, Flávio Basso adotou um estilo folk e saiu perambulando por ai sob a alcunha de Woody Apple, com violão e gaitinha no melhor estilo Bob Dylan. O Apple é uma referência aos Beatles influência marcante na sua formação musical. Já o Woody, eu não me lembro de ter lido ou ouvido alguma explicação dele a esse respeito, mas a julgar pelo estilo adotado só pode ser uma menção à Woody Guthrie (1912 - 1967), considerado um dos nomes mais importantes da folk music norte-americana e uma grande referência na música de Bob Dylan. Após essa breve incursão nesse universo folk, o nosso herói tira o Woody do nome e passa o Apple para o português, se intitulando Júpiter Maçã, gravando, em 1995, sua primeira demo com a banda Os Pereiras Azuis (futura Cachorro Grande). Essa demo já contava com futuro clássicos como “Lugar do Caralho”, regravada anos depois por Wander Wildner (Ex-Replicantes) e “Miss Lexotan 6mg Garota” que recebeu uma versão do Ira!.
Finalmente em 1997, ele lança seu primeiro disco solo, A Sétima Efervescência, que é calcado nos moldes de The Piper At The Gates Of Dawn, do Pink Floyd, com psicodelia e experimentação (e, por um leve momento, um prenúncio de sua obra ulterior, o final de "Sociedades Humanóides Fantásticas", uma bossa-nova psicodélica). As músicas desse disco são grandes referências do rock gaúcho. Contém algumas faixas fixadas no imaginário underground, como "Querida Superhist X Mr. Frog", "As Tortas e as Cucas", além das já citadas “Lugar do Caralho” e “Miss Lexotan 6mg Garota”. Após experimentar um relativo sucesso com o lançamento desse disco, torna-se Jupiter Apple, compõe em inglês, e decide misturar bossa-nova e vanguarda. Muitos fãs não o entenderam, preferindo a psicodelia "simples" do trabalho anterior. Essa mistura inusitada está muito bem feita no seu segundo disco, Plastic Soda (1999). Ele começa com uma canção de nove minutos, "A Lad And A Maid In The Bloom", que define o caráter inovador do disco.
Em 2002 é lançado Hisscivilization, o disco mais ambicioso (talvez incompreendido) de Jupiter Apple. Longas experimentações eletrônicas (destaque para "The Homeless And The Jet Boots Boy"), bossas elétricas e lounge, valsa, cítaras e MOOGs, condensados em momentos, ora de leveza, ora de paranóia. É seu disco mais hermético: se, para os que estavam acostumados com o rock and roll dos Cascavelletes, a Sétima Efervescência já era algo inesperado (psicodelia em doses cavalares), a reação causada pelos dois discos da fase Apple são ainda mais dramáticas.
Em 2006 era esperado o lançamento do disco Uma Tarde Na Fruteira, que acabou saindo somente em 2007, com uma edição especial lançada na Espanha, aonde recebeu ótimas críticas. Nele, o Apple volta a ser Maçã, mas continua explorando o lado brasileiro e experimental, com músicas já eternizadas no subconsciente do underground porto-alegrense, como "A Marchinha Psicótica de Dr. Soup". Esse disco pode ser considerado o mais acessível do autor. De certa forma, tudo que já foi composto pelo Júpiter está resumido neste trabalho: desde canções mod sessentistas, levezas jazz, baladas domingueiras e “bob-dylantescas”, concretismos e timbres eletrônicos.
Ainda no ano passado, as músicas do Júpiter Maçã rechearam a trilha sonora de Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock’n Roll, animação em longa metragem do cartunista paulista Angeli. Ele também lançou o álbum Jupiter Apple & Bibmo, pela Monstros discos, de Goiânia, com participações especiais no mínimo lendárias de: Prego (da Pata de Elefante) e Márcio Petracco (dos Locomotores). Isso, mais o fato do lançamento no velho mundo, talvez ajudem a trazer essa Maçã para um lugar ainda mais ao sol, porque apesar de tudo, Júpiter continua orbitando pelo underground e merecia um destaque maior, apesar da sua música ser um tanto retrô, lembrando uma série de referências do passado, essa velha receita ainda é muito melhor que muita coisa nova que está rolando por aí, principalmente se falarmos em termos de rock nacional aonde, com raras exceções, impera um pop (muito mais que um rock) recheado de mediocridade e intenções meramente comerciais.

( http://boogiewoody.blogspot.com/ )

domingo, 26 de abril de 2009


MAGNÍFICO

agora
já não conto dias

só a sombra
do tempo que passa.

Cgurgel

IRA

a manada
estrebucha pelo deserto
que ela própria
criou

o céu
avermelhou-se.

Cgurgel

VERSÍCULO

permita-me
que o silêncio
e seus últimos avisos
declarem:

a terra com suas enormes serpentes
e com suas feridas e girassóis
será alvo de cobiça
pelo escuro
que dos olhos do desconhecido
palpitam

assim sendo
o que se aconselha
é fruto de muito sono
e perdição.

Cgurgel

sexta-feira, 24 de abril de 2009


... E SATÃ EXORCIZA OS "MODERNINHOS E "BONZINHOS" DA MPB

Na verdade, a capa já tenta nos pregar uma peça. A galinha de macumba ensangüentada e os símbolos demoníacos apontam para um disco de trash metal ou coisa parecida, impressão que a trovoada percussiva que abre o CD , típica de uma banda desse gênero, tenta prolongar. Mas logo a seguir, um número que mistura mais repiques de bateria com uma dissonante melodia executada em instrumentos de sopro, teclados e com um grito oco e demoníaco que permeia a faixa (que leva o nome de “Teletransputa”) já diz o que o SATANIC SAMBA TRIO vem propor.
O grupo de Brasília, formado por Hideki (cavaco, harmonium, teclados e software), Munha (baixo e regência), RC (guitarra, violão e viola), Lupa (bateria e ‘todo tipo de percussão’) e Marcelo Vargues (trompete, trombone piccolo, e regência) –todos músicos formados e de educação musical erudita- chuta o pau da barraca, pois “Misantropicália” (selo Amplitude) faz jus ao título e nos traz, em pouco mais de 30 minutos, uma avalanche de referências musicais que se inspiram principalmente no tropicalismo de Tom Zé (ouça “Dança das Quiumbas”).
Esses blocos mais pesados aparecem porém em medidas homeopaticamente divididas entre espaços de música minimal, trechos esses que, por sua vez, fundem sons de um rugido satânico e uma simulação de um ritual de exorcismo com vários e quebrados ritmos de pandeiro, além de cavaquinhos, frases de cello e demais efeitos. Um exemplo disso está na faixa “deus odeia Samba-rock” (sim, a palavra deus é propositalmente escrita com letra minúscula, ao contrário do nome do gênero musical). Seria uma “limpeza” dos detritos deixados pelo Tropicalismo na MPB ou uma busca nas tripas da arte musical da essência humana mais profunda que inspira a sua criação? Os dois, provavelmente.
Deixando um pouco de lado as referências musicais do grupo, o fato é que a sua música desperta uma espécie de viagem ao centro do inconsciente, como se lá no fundo de nossas mentes morasse um monstro feroz, mas que vive atualmente domado e anestesiado pelo incessante bombardeio midiático que faz da música popular mais um xarope para dominar as infecções da alma do que propriamente a tradução de suas angústias, e que ao ser flagrado sem disfarces se assemelha ao diabo, neste caso um bicho indomável que pode descobrir o tecido da cilada e rompe-lo violentamente.
Durante toda a execução do disco, algo dentro de nós parece procurar um sentido mais familiar que poderia se refletir na música, algo como uma melodia ou uma frase rítmica um pouco mais constante, o que não acontece (exemplos mais nítidos estão em “Canção Para Atrair Má Sorte” atos 1 e 2, “Gafieira Bad Vibe”). Alguns minutos de uma caótica execução instrumental que mescla samba-rock com microfrases jazzísticas e polirítmicas e novamente somos jogados às ‘trevas’ de nossa consciência, como se essas partes mais intensas fossem um vômito seguido de um mergulho num purgatório de emoções e sentimentos obscuros. Afinal, não seria esse o papel da verdadeira arte? Trazer à tona as emoções mais puras, virgens da pérfida ilusão do mundo externo? Eles querem te irritar, fazer com que você dê um berro! Solte as feras, meu irmão. É isso mesmo.
O SATANIC SAMBA TRIO é uma promessa dentro da música brasileira. Um aviso bastante cínico de que há vida inteligente por trás do consenso mercadológico. Uma necessidade se quebrar as regras estabelecidas sempre se faz presente, mas aqui ela aparece exorcizar a banalidade e a fugacidade das fórmulas fáceis até mesmo do que se considera ‘boa música’, no caso a herança deixada pelo Tropicalismo. Uma espécie de ‘purificação’ para valer.
A brincadeira com o Diabo sugere mais uma bem humorada gozação em cima das delirantes e melosas evocações ao “amor”, ou se preferirem, ao politicamente correto e à idéia de justiça social muitas vêzes disfarçados sob a égide do bom mocismo modernoso dos pop-roqueiros e do puro jogo de interesses da indústria da musica. O grupo de Brasília parece propor, através da música, que se destruam todas as bases e que se comece lá de dentro de nós outra vez. Que em muito do que nos assusta e incomoda pode se esconder também a inovação e a criatividade. Que sejam libertados nossos demônios e que se desnude a idéia de bem, como pensou Nietzsche.

Marcelo Sanches

BANQUETE

comensais
comovem a barriga
com crisântemos

e
ratos
suplicam
pela cidade
deserta e perdida.

Cgurgel
MIRÓ - Preto, Pobre, Poeta e Periférico - Trailer

COEVO

faz tempo
deixei de ser uma coisa
só minha

hoje
procuro
pelos cânticos
que me cessem.

Cgurgel

HINO

o que
em mim
voa
não é a razão pela vida

mas
o precioso sentido
que os seus dias
me trazem

a cada minuto
pouso
entre raízes e sombras

com um canto
que dos meus pulmões ecoa.


Cgurgel

quinta-feira, 23 de abril de 2009


PANO DE FUNDO

sou
deveras ocupado com meu tempo
como espantando demônios

e as crianças tão belas
fortalecem a minha pele e a minha voz

a noite
está tão estranha
e tenho medo de fitá-la

o que me resta
são só saudades
do que os meus olhos recolhem.

Cgurgel

DESENLACE

tá bom
eu fico
mas só
se voce sair.

Cgurgel
PALAVRA (EN)CANTADA - Trailer

PALAVRA (EN)CANTADA
Por Priscila Santos

Para alguns estudiosos e observadores da literatura, a poesia se caracteriza por uma criação artística que existe sozinha: tem suas regras, suas formas, seus sons próprios e estes a fazem plena unicamente em si, podendo dispensar acompanhamentos. É comum que numa roda, reunindo esses mesmos estudiosos e observadores da literatura, lá pelas tantas, pelo quarto copo de vinho, alguém declare a sentença: Chico Buarque, por exemplo, não é poeta, é músico. A partir daí a conversa, antes consenso, vai virar uma discussão sem fim e depois de meses, dois ou três daqueles amantes das letras ainda estarão se odiando mortalmente. Fatalmente vão produzir alguns tratados que não nos tocarão em nada.
Palavra [En]cantada é um filme que ronda o mistério das palavras ditas e entoadas sem chegar perto desse tipo de debate onde um bom e velho veneno da vaidade academicista sempre mata um pouco mais a gente. Dirigido por Helena Solberg, com argumento de Marcio Debellian, o documentário segue uma reflexão a respeito dos momentos em que música brasileira e poesia convergiram.
Através do depoimento de grandes nomes da música nacional, Sodenberg nos leva a fogo brando pela história e escolas da música brasileira; dos morros cariocas à periferia de São Paulo, passando pela Bahia e pelo mangue pernambucano. O documentário parte da idílica existência dos trovadores, aqueles artistas medievais que inventaram a poesia musicada e a espalharam de tal forma que são considerados o marco zero da literatura como hoje a conhecemos. A partir daí nomes como Tom Zé, Lenine, Maria Betânia, Martinho da Vila, Lirinha do Cordel do Fogo Encantado, BNegão e o próprio Chico Buarque, vão falar sobre a presença da poesia em suas canções e dão versões sobre o porque e do como esses encontros acontecem.
O filme traz ainda imagens de arquivo recuperadas, algumas nunca vistas, como as de carnavais na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro e encenações de Morte e Vida Severina pelo grupo de teatro da PUC (o primeiro a montar a peça, em 1965), além de raridades como a entrevista de Caetano Veloso, falando sobre porque combinou na sua música Coca-Cola e Brigite Bardot, e apresentações de repentistas do Nordeste em meados do século passado.
Na junção de todos os seus segundos e coisas ditas, Palavra [En]cantada nos faz descobrir muito mais sobre música, poesia e brasilidade do que muitos foram capazes de fazer. A contribuição é enorme: enfrentar a particularidade do caso nacional, onde a palavra escrita não conseguiu até hoje criar raízes fortes e onde a literatura só pôde se expandir através da oralidade - o que nos torna indivisíveis da maior parte da África - e abre um novo leque de possibilidades para entendermos a absurda riqueza de formas e sons da nossa língua e da nossa música. Solberg e Debellian pariram um filme essencial para quem ainda acredita que a beleza salvará o mundo.

TEMPO

o relógio
bate as minhas costas:
ele quer saber
das linhas da minha vida
nas minhas mãos

eu respondo
desenhando
tal qual um arqueiro
o que seria o mapa
que os meus dedos tocam:

uma sinfonia tão delicada
parecida com um oceano banhado
de infinita e lúdica incredulidade

cambaleante,
o relógio dorme
igual a seus ponteiros
desafiando os disparos dos seus pares.

Cgurgel

MEREDITH MONK
Rainha da vanguarda americana e autora de trilhas para Godard

por Antonio Gonçalves Filho

Aos 64 anos, a compositora, cantora, cineasta e performer norte-americana Meredith Monk concluiu que a técnica vocal desenvolvida por ela para criar sofisticadas peças de vanguarda poderia desaparecer se insistisse na habitual atitude de ser a primeira intérprete do seu trabalho. Foi a morte de sua companheira, a coreógrafa holandesa Mieke van Hoek, em 2002, que a obrigou a fazer a si mesma uma pergunta: o que vai acontecer quando ela já não estiver mais aqui e como eternizar um trabalho fadado a uma ou duas performances para iniciados? A resposta foi a criação de um espetáculo para a posteridade, Impermanência, que ela traz ao Brasil, em novembro, para uma curtíssima temporada. Meredith Monk, alçada pelos críticos à estatura de John Cage, vem acompanhada de um grupo de músicos performáticos que se apresenta entre 13 e 15 de novembro, no Sesc Vila Mariana, numa iniciativa da Dharma Art. Por telefone, de Nova York, ela concedeu uma entrevista exclusiva ao Estado, em que falou não só de Impermanência como de sua influência sobre músicos pop, entre eles a cantora islandesa Björk, sobre religião e até sobre política.
Meredith Monk, que é budista e já compôs uma peça musical em homenagem ao dalai-lama (Vocal Offering, 1999), faz campanha para Barak Obama e crê que o candidato à presidência dos EUA é o digno herdeiro dos ideais humanitários de Martin Luther King. "Não quero nem mencionar o nome do outro candidato concorrente ou do nosso atual presidente, empenhado em destruir o meio ambiente", diz Meredith, definindo Barak Obama como uma espécie de herói da modernidade, "um homem confiável, exemplo para um mundo conturbado e carente de modelos".
Ela não disse que esse é um mundo maluco porque seria ofender os pacientes do Rosetta, internos de um hospital inglês com os quais trabalhou canções que integram o espetáculo Impermanência. Essa parceria com os pacientes do Rosetta foi um tributo à companheira de 22 anos, Mieke van Hoek, morta aos 56 anos, de câncer, que deixou registrado em fitas um trabalho de dança e canto realizado com eles. A compositora viajou para Londres e gravou novamente as canções dos insanos do Rosetta, batizando a canção de Mieke?s Melody Número 5, tema musical com pouco mais de 5 minutos que encerra o espetáculo Impermanência.
Meredith Monk define o trabalho de "muito simples" . Mais uma vez, explora sua técnica de extensão vocal e cria uma nova sintaxe para traduzir a perda da dor de entes queridos. Como o próprio título sugere, Impermanência lida com o conceito budista de um universo em permanente mutação, o que se aplica particularmente à linguagem multidisciplinar do espetáculo, que une dança, música, vídeo e performance. Sua imagem-síntese faz lembrar muito o teatro-dança da alemã Pina Bausch: dançarinos tentando se equilibrar em cadeiras, apoiadas apenas em dois de seus quatro pés, balançando para a frente e para a trás. Esse equilíbrio precário vai além da metáfora, mas a compositora evita a armadilha da palavra, preferindo concluir a peça com o som do piano interagindo com a voz humana, como em Dolmen Music, que lhe abriu as portas da Europa nos anos 1980, quando o produtor alemão Manfred Eicher , encantando com suas experiências vocais, transformou-a na primeira cantora contratada pelo selo ECM, até então dedicado à música instrumental.
Foi ouvindo Gotham Lullaby, uma das faixas de Dolmen Music, que Björk descobriu Meredith Monk. Assumidamente influenciada por ela, aprimorou sua técnica vocal e criou o próprio estilo. Há 20 anos, pouca gente conhecia a compositora americana, então uma performer experimental do gueto vanguardista nova-iorquino, até que Godard usou temas seus no filme Nouvelle Vague e os irmãos Coen incluíram peças musicais de Meredith em O Grande Lebowski, comédia sobre um desocupado que vive para jogar boliche e ouvir rock dos anos 1960. Naturalmente, nem Godard nem os Coen são sinônimos de cineastas populares, bem como Meredith. Ainda assim, são referências que atestam o prestígio da compositora no mundo do cinema, para o qual realizou e escreveu a trilha de Book of Days (1988).
Ao contrário de outros compositores que rejeitam a função, por considerar "menor" a autoria de trilhas, Meredith Monk revela adorar a composição de música para filmes. "Minha música é muito cinematográfica e gostaria muito de ter colaborado com meus cineastas preferidos, Tarkovski e Kieslowski, mas, infelizmente, já estão mortos." Porém, há ainda um autor muito vivo, Todd Haynes , com o qual ainda pretende trabalhar. "Vi seu filme Não Estou Lá e fiquei deslumbrada", diz, classificando o ensaio biográfico sobre Bob Dylan de uma "séria reflexão" sobre os meandros da indústria pop.
Meredith jamais se deixou apanhar pela rede das gravadoras nem tirou proveito da repercussão de seu trabalho junto aos artistas de apelo popular como Björk. Recentemente, ela tem recebido homenagens do mundo erudito, como a do violinista e compositor Todd Reynolds, que apresentou uma série de concertos com peças suas no New York?s Symphony Space. O maestro Michael Tilson Thomas não sossegou enquanto ela não compôs uma sinfonia para ele. "Foram cinco anos de resistência, mas não adiantou dizer a ele que com a voz você pode fazer tudo", conta a compositora. "Então, gastei cinco anos para pensar no timbre de cada instrumento e associá-lo a uma voz."
O registro fonográfico de Impermanência, observa, também levou algum tempo. É, segundo ela, apenas um "instantâneo" de seu trabalho. A compositora acredita mesmo na presença física do artista no palco, interagindo com os músicos e seu público. Em Impermanência, ela e seu Vocal Ensemble, criado em 1978, são acompanhados por um pianista, um clarinetista e até uma roda de bicicleta adaptada duchampianamente a instrumento.
Todos os vocalistas do conjunto de Meredith Monk são músicos respeitadíssimos. Theo Bleckmann e Katie Geissinger trabalharam, por exemplo, com Philip Glass, compositor minimalista da geração da compositora e uma das suas afinidades eletivas. A exemplo de Glass, ela também é autora de óperas, como Atlas (1990), e dirigiu alguns filmes "para serem ouvidos", dos quais Book of Days (1988) é certamente o mais conhecido. A ausência de uma história linear, tanto em sua ópera como em seus filmes, costuma incomodar o público não familiarizado com essa economia pós-minimalista. Meredith diz que não deseja ser hermética, mas sente que o artista contemporâneo está condenado à fragmentação cubista. A vida e a arte não são diferentes.

VIDA PACATA

a medida que voce se desespera
o tempo não passa

e voce pode fazer o que quiser
que vai ser tudo contra voce

a avalanche de coisas possuidas por forças estranhas
não tem como acompanhar

voce já se viu sozinho no meio da noite?
procurando por alguém que consiga acalmar seus ânimos?

já não sabe o caminho de volta?
é como beber sem parar
ai realmente é difícil acreditar

o mundo parece uma grande bola de fogo
e tudo
tranquilamente acaba.

Cgurgel

terça-feira, 21 de abril de 2009


HOMOCENTRISMO

O homem sério
que o tempo tão insistentemente se encarregou de sujar
(com os pés dele)
tão profundamente loucos e podres
pisa por sobre
tapetes e tesouros

Por entre seus molambos ambulantes
dissimula a face de uma faca enferrujada

O homem sério assim
é uma grande miséria

Ele abocanha
rapidamente
todas as dores que desse tempo mutila

Assim
entre sermões e cifrões
o homem sério já não se aquieta de tanta soberba

E o que mais impressiona é a sua própria face:
de tão tresloucadamente olhar para o mundo que o destila
ele já não se vê

Prolonga-se por sobre os dias
que sepulta seus passos e desejos
o seu inefável ar de existencialismo precoce

E como percebê-lo?
só com a imagem que a todos é permitido vê-lo:
um histriônico patrimônio da solidão humana.

Cgurgel

A FASE DE BRINCAR COM A VIDA

parece que foi ontem
eu de pés descalços
andando pela noite vazia

e ao redor
copos vazios de alegria
como querendo dizer dilúvios

parece que é sempre assim
quando começa a chegar o sono
tudo muda repentinamente

e eu
no meio do mundo
parece que ele vai me levar.

Cgurgel
Cocco Rosie - "Terrible Angels"

segunda-feira, 20 de abril de 2009


OS DRAMÁTICOS GRITOS DE QUEM FICOU NO MEIO DA SALA

os brioches estão todos ruins
sua beleza matutina assim
os cadafalsos estão todos prontos
como envelopes lacrados do além
tua templária alegria circense se foi
assim como o rato que roeu os meus vinténs
somos rostos soltos no mar
como quem vai na feira e se entorpece
somos como milhares de frases
templo de tentativas das tempestades
os dramáticos gritos de quem ficou no meio da sala
como festim, carrossel
um patuá
uma covardia
bom dia
contamina
como quem vem lá de cima.

Cgurgel

INVISÍVEIS ATRAÇÕES

que pirâmides inclementes são essas
que atravessam meus pulmões?

que silêncio indescritível é esse
que me recusa a palavra e o som?

que prisão intocável é essa
que me hospeda entre sinecuras e fomes?

que mentira tão valente é essa
que me transporta por entre asas e estios?

que distância tão inglória é essa
que me lança entre a parede e o abismo?

e quem é esse em mim
como se fosse o ontem que retorna?

Cgurgel

domingo, 19 de abril de 2009


BAMBU

Formado em 1996, o Bambu criou um novo som na música brasileira, aliando voz e instrumentos ecléticos nunca antes reunidos. O que se viu e ouviu foi um surpreendente caldeirão sonoro totalmente inesperado, moderno e atual.
Com o cd de estréia, apresentou-se nos mais diversos palcos deste país, encantando o público e arrancando elogios da mídia especializada e de músicos como Lenine, Nelson Sargento e Farofa Carioca.
O grupo apresentou-se em programas de televisão como o especial “Dia da Música” no CANAL FUTURA, “Sem Censura” (TVE RIO), Estart (Globonews), Metrópolis (TV Cultura), Videoshow (Globo), além de ter sua música executada em rádios como ELDORADO, O DIA FM, USP, MEC, CULTURA entre outras.

Integrantes

Bárbara Lau – Voz
Uma das mais belas e afinadas vozes da nova safra de cantoras brasileiras. Bárbara harmoniza seu raro timbre de contralto à sonoridade inusitada do BAMBU, mostrando versatilidade e poder de interpretação dos mais variados ritmos.
Cristina Braga – Harpa
Harpista renomada, cujo talento é reconhecido no Brasil e exterior, Cristina introduziu a harpa no cenário da Música Popular Brasileira, criando uma nova linguagem e suingue pessoal ao tocar o instrumento. Integrou o grupo OPUS 5 e emprestou seu talento aos shows e discos dos Titãs, Zizi Possi, Nando Reis, Angela Maria entre outros. Estuda desde os 11 anos de idade e atualmente é a 1a harpista do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
José Staneck – Gaita
Um dos mais renomados gaitistas da nova geração, estudou com M. Einhorn e H. J. Koellroetter. O som de sua gaita passeia do popular ao erudito, atuando em diversas formações instrumentais e como solista em orquestras.
Ricardo Medeiros – Contra Baixo & Baixolão
Multi-instrumentista, é formado nas Universidades de Londres e UFRJ. Músico experiente, toca desde os 17 anos e já acompanhou Raul Seixas, Joyce, Zizi Possi entre outros. Ricardo também é arranjador e produtor musical, emprestando seu talento aos discos de Bia Bedran e do BAMBU.

( movimento.com )

sexta-feira, 17 de abril de 2009


MURMÚRIO

Nesse mundo que eu estou
encontro tudo que é possível sentir
a saudade de um filho que já me esqueceu
o meu carro tão velho e solidário
minhas poesias que não dormem

Naquela manhã que muito chove
eu guardo papeis amassados de sonhos
de tudo que me faz refletir sobre o medo de ser novamente criança
de uma voz que ressoa a vontade de um tesouro que voa
como caminho de uma vida repleta da força dos rios

A vida é tão somente uma flor que cresce
como uma esmola que se dá a um mendigo que se contorce
ou de uma infância que passa ao redor de uma lua que flana
de um ser tão intricado com seus estilos de pensar e refletir sobre o mundo
e de um trilho que vou encontrar como farol e moinho dos meus sonhos

Assim eu respiro
como um grande jardim onde alimento sonhos e raízes
como uma lembrança que se espalha pelo meus sentimentos e sonos
como tudo que se acaba e se renova ao meu redor
e de um perdão, um carinho que eu guardo para quem me quer

E como um leão que da minha alma acontece
que busca pelas calçadas, praias, praças e avenidas
o perfume de um olhar do amor que me aquece
tudo tão precioso como o tempo que da minha face voa
mesmo como assim deve ser para quem, a mim, nunca esquece.

Cgurgel

NOVO CD DE LULA QUEIROGA É FORTE EM EXPERIMENTAÇÂO

Lula Queiroga é um desses nomes que, quem acompanha distraídamente a música brasileira desde os anos 70, já leu em algum lugar. Ele aparece até nos créditos de algumas trilhas de filmes de Renato Aragão, como "O trapalhão na Arca de Noé" (1984), para o qual compôs e até cantou temas. Cantor e compositor de discografia reduzida – são poucos títulos, o mais pujante deles dividido com o conterrâneo Lenine, Baque solto (1983) – Queiroga exibe em "Tem Juízo Mas Não Usa" uma sonoridade que pode até lembrar bastante a do antigo parceiro. Mas que ele também ajudou a desenvolver na época em que o coautor de "Hoje Eu Quero Sair Só" era uma promessa da MPB.

Cria do próprio Queiroga, Pedro Luis aparece como parceiro na faixa-título, um samba que acaba servindo como candidato a hit, um de seus momentos mais radiofônicos. E paira sobre o soul-samba-nordestino "Coração Burro", uma das melhores do álbum. Embora os refrões e as linhas vocais de músicas como o batidão nordestino "Você Não Disse" tenham potencial comercial, as 14 faixas do álbum soam um tanto experimentais, brincadeiras de estúdio em meio a estilhaços pop-MPB.

Entre eles o choro nordestino "Altos e Baixos", cuja letra, confessional sem ser pessoal, tem algo que remete a Titãs e à fase setentista de Tom Zé. E cuja gravação mistura violões (um deles tocado com uma caneta Bic) e programações de percussão. "Belo Estranho Dia De Amanhã", gravada já por Roberta Sá em "Que Belo Estranho Dia Para Se Ter Alegria" (2008) tem a mesma postura de inserir esquisitices com a letra (que une partes faladas e cantadas) em armaduras pop. "Tectopop" leva a fórmula a seu ápice, com violas, percussões e metais em meio a uma tentativa de tecnopop nordestino marcial. "Tem Juízo Mas Não Usa" resulta em boa reinvenção da MPB.

(Ricardo Schott, Jornal do Brasil)

terça-feira, 14 de abril de 2009


RELICÁRIO


que a manhã infinda
ainda ressoa por sobre
minhas sandálias

E ainda que tardio
volto ao cais
onde vivi

Como um iniciante
que ao primeiro olhar
distribui risos e silêncios

E
ao sol que se põe
sou mais um que adormece
por entre flores e canções.

Cgurgel

segunda-feira, 13 de abril de 2009


ÔLHO DE RINSE

vejo pelo que me dizem
um tomate vermelho
uma noite intensa
e aquela flor na lapela

vejo
como assim desejo
um bosque do tamanho das minhas mãos
um menino que corre solto e demente
uma estância de chás e recreios

vejo
assim tudo do que o meu mundo pega
tudo tão útil e luminoso
como um rito que alguém assim pensou

e confesso:
vejo mais do que devia
tudo tão azul e preso
como intencionalmente
a minha vida que não dorme.

Cgurgel

AMULETO

paciência
é para o tempo que se vive

não
para o tempo que virá.

Cgurgel

sábado, 11 de abril de 2009

"OXUM" - AVA ROCHA


AVE AVA !!!!

No último verão quem foi a Tenda Cultural em Camburi teve uma ótima surpresa: a participação especial da cantora carioca Ava Rocha. Foi a primeira vez que ela subiu num palco como cantora, vindo de uma carreira premiada como diretora e montadora de cinema.
Agora, um ano depois, ela retorna a ilha trazendo sua recém-formada banda já figurando como uma das novas apostas da música brasileira. O show acontece novamente em conjunto com Sol na Garganta do Futuro, na Tenda montada na Praia de Camburi, em frente ao Banco do Brasil, a partir das 19h30.
Ava Rocha, filha do cineasta Glauber Rocha e da artista plástica Paula Gaitán, reúne sua voz alucinante à uma pesquisa sonora em sua banda homônima, Ava, que cruza percussões, timbres do violão acústico e do violoncelo e loops e samples criados a partir do computador, compondo uma narrativa de arranjos simples que privilegiam sobretudo a sonoridade.
Ava fez temporada de shows no Rio e tem sido muito bem recebida pelo público. Adriana Calcanhoto teceu elogios ao seu trabalho em entrevista a Folha de São Paulo, dizendo "que tem uma puta voz, uma ótima presença de palco. A menina é uma artista". Semana passada, quem também falou foi Caetano Veloso em seu blog (http://www.obraemprogresso.com.br): "Ava tem uma voz grave. Não de timbre cúprico como a de Bethânia. Nem de timbre limpo e nítido como a de Simone. Nem de timbre cavernoso como a de Ângela Ro Ro. A voz de Ava tem muito ar. Tem grave mais doce do que todas as citadas." Para completar o belo início de carreira no último sábado o jornal O Globo apontou a cantora como uma das apostas musicais para 2009.

A cineasta, cantora e compositora Ava Rocha, e os músicos Emiliano 7 (violão, guitarra e baixo) Daniel Castanheira (percussão, guitarra, baixo e eletrônicos), Nana Love ( violoncello, teclado e voz) lançaram seu trabalho musical AVA.
Apresentam um repertório inédito com composições de Pedro Paulo Rocha, Ava Rocha, Emiliano 7 e Daniel Castanheira, além de releituras de Jards Macalé em “Movimento dos Barcos” e “Pra Dizer Adeus” de Torquato Neto e Edu Lobo. Os arranjos coletivos (que integram outros parceiros como o músico eletrônico Edson Secco e Pedro Paulo Rocha) dialogam com a espacialidade e o tempo do cinema, tramando efeitos sonoros a caminhos melódicos e harmônicos. O Refrão e o ruído.
Lançado recentemente no panorama musical, em um emocionante show no Cine Odeón, o trabalho reúne a novidade do canto de contralto raro de Ava Rocha com uma pesquisa sonora que cruza percussões, timbres do violão acústico e do violoncelo e loops e samples criados a partir do computador, compondo uma narrativa de arranjos simples que previlegiam sobretudo a sonoridade. Numa tradução imagética do som, um filme sensorial, tecido ao vivo pela VJ Moana Mayall a partir de fragmentos da obra cinematográfica de Ava Rocha e de outros cineastas que tiveram canções de AVA nas trilhas de filmes como " Diário de Sintra" e "Vida-Maria Gladys" de Paula Gaitán, "Kynemas" de Pedro Paulo Rocha, "Amaxon" de José Sette, " Laminadas Almas" de Tunga e Eryk Rocha, " Miragem em Abismo" de Geraldo Carneiro e Eryk Rocha e " Mama" de Lanto Ibeseloronga de Madagaskar.
Portanto, um cenário construído por artistas convidados como Alexandre Vogler, formam um cenário de luz, reflexo e imagens onde os músicos e o público são imergidos.
Os artistas envolvidos no trabalho transitam pelo território do cinema, da literatura e da musica. Emiliano 7 é roteirista, compõe trilha de filmes e é integrante da banda “Solana Star” e "Urubu Sertão"; Nana Love é performer, atriz e professora de música da rede pública; Daniel Castanheira é formado em filosofia e mestrando em literatura brasileira, percussionista, compositor, violonista e integrante do coletivo de arte sonora “Hapax”.
Ava Rocha dirigiu diversos curtas entre eles "Dramática" e prepara seu primeiro longa " Vento Sul montou diversos filmes como " Intervalo Clandestino" " Walter- O Passageiro", " Quimera" e a " Estrada Real da Cachaça" e atuou junto ao Teatro Oficina, cantando em “Os Sertões” dirigido por José Celso Martinez Correa além de preparar um filme sobre a saga chamado " Ardor Irresistivel".
"O acontecimento chegou naquele lugar maravilhoso das intensidades extremas
dentro da suavidade total"....
Quinho (cantor e compositor se referindo ao show de estréia no Odeón - no dia 2 de setembro de 2008)
"Posso ser traido pelo meu pouco conhecimento, mas creio que pode-se dizer que não existe som igual. Considero privilegiado o público que presenciou a originalidade de uma "música global" feita no Rio de Janeiro. Segundo meus ouvidos, apresentação impecável! meninos e meninas, parabéns!"
Geferson ( artista visual, sobre o mesmo show)

( blog "Garganta")

quinta-feira, 9 de abril de 2009


SONÂMBULO NÉCTAR

viver como se fôsse
sonâmbulo néctar

arremessando pela noite
o ruído de um cego brinquedo

insônia que ao meu sonho se doma
tão teto de uma força que da noite ruiu

como cores de uma flora
que do meu instante enfim passou

tudo como um ímpar berro
que assim o rosto do tempo sentiu

uma tábua de um vento
que sorriu ao olhar de quem serviu para o ontem.

Cgurgel

quarta-feira, 8 de abril de 2009


AZIMUTE

escrevo
do que em mim
respira

se envolve
de fugas e saltos
o meu silêncio

e mesmo
que meus passos
esqueçam

sou
como que vai assim
aos montes.

Cgurgel

terça-feira, 7 de abril de 2009


VIGÍLIA

o branco
que do meu gostar escorre
é como se fosse uma ventania
de garças e desertos

assim como o silêncio de um vale
que ilumina o escuro dos meus braços

é tudo tão fértil e sutil
um debulhar de chuvas e segredos

como uma lua
que de tão tamanha
reflete o esboço que da minha alma
voa.

Cgurgel

quarta-feira, 1 de abril de 2009


OBLÍQUA ÓRBITA URBANA

uma cidade
é seita de crimes
holofotes
e incapazes sobras de hóstias e hospícios

por suas nuas ruas
trafegam mortes e ressurreições

uma cidade
é uma cantilena posta
semelhante
a sombra dos seus habitantes
tão escrotos de riscos e vias venéreas

réstia
de um réquiem
tão séquito
de vales e velas.

Cgurgel


MAMUTE

o tempo
que agora vivo
ele é trespassado
por dívidas materiais
espirituais
sócio-ambientais

sou um eterno recomeço
de uma obra
que cobra de mim
elasticidade
e uma infindável paciência

tudo isso
assim
tudo
tão amiúde
e raro.

Cgurgel


ESTULTICE

Quem assim se vê
por onde garimpa
a fome do olhar

E mesmo que tudo pareça cedo
nem tem idéia da dimensão do tarde

Assim é o que parece ser
quando o olhar
no lugar do coração
estultice

É pena
tudo não passa
do que mãos e desejos corroem.

Cgurgel