sexta-feira, 17 de abril de 2009


NOVO CD DE LULA QUEIROGA É FORTE EM EXPERIMENTAÇÂO

Lula Queiroga é um desses nomes que, quem acompanha distraídamente a música brasileira desde os anos 70, já leu em algum lugar. Ele aparece até nos créditos de algumas trilhas de filmes de Renato Aragão, como "O trapalhão na Arca de Noé" (1984), para o qual compôs e até cantou temas. Cantor e compositor de discografia reduzida – são poucos títulos, o mais pujante deles dividido com o conterrâneo Lenine, Baque solto (1983) – Queiroga exibe em "Tem Juízo Mas Não Usa" uma sonoridade que pode até lembrar bastante a do antigo parceiro. Mas que ele também ajudou a desenvolver na época em que o coautor de "Hoje Eu Quero Sair Só" era uma promessa da MPB.

Cria do próprio Queiroga, Pedro Luis aparece como parceiro na faixa-título, um samba que acaba servindo como candidato a hit, um de seus momentos mais radiofônicos. E paira sobre o soul-samba-nordestino "Coração Burro", uma das melhores do álbum. Embora os refrões e as linhas vocais de músicas como o batidão nordestino "Você Não Disse" tenham potencial comercial, as 14 faixas do álbum soam um tanto experimentais, brincadeiras de estúdio em meio a estilhaços pop-MPB.

Entre eles o choro nordestino "Altos e Baixos", cuja letra, confessional sem ser pessoal, tem algo que remete a Titãs e à fase setentista de Tom Zé. E cuja gravação mistura violões (um deles tocado com uma caneta Bic) e programações de percussão. "Belo Estranho Dia De Amanhã", gravada já por Roberta Sá em "Que Belo Estranho Dia Para Se Ter Alegria" (2008) tem a mesma postura de inserir esquisitices com a letra (que une partes faladas e cantadas) em armaduras pop. "Tectopop" leva a fórmula a seu ápice, com violas, percussões e metais em meio a uma tentativa de tecnopop nordestino marcial. "Tem Juízo Mas Não Usa" resulta em boa reinvenção da MPB.

(Ricardo Schott, Jornal do Brasil)

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