sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008





ÊXODUS


Sim. Todos os recados foram dados. Uma península de memórias. Livres de feiras e preces. Uma fortuita escalada por entre girassóis e morcegos. Indisciplinado chão. Que me arrasta com seus sustos e clemências. Como quem só precisa de inúmeros cuidados. Como crer debruçar-se sobre livros e palafitas.
Nesse dia subi escadas e declarei vago o meu pensar. O que procurava não vou saber como encontrar. Um monte de passos. Acinzelando promessas e vigílias. É o que o tempo me disse. Era preciso ter cuidado. Como um barco que procura no mar, a silhueta de uma lua que ampara jardins e maçãs.
Simples como a sombra de uma árvore. E tão indestrutivelmente preciosa, que me acostumei com o futuro. Uma noite, como se quizesse procurar pela sua própria voz.
Uma névoa, nuvem, tapete de letras.
Sim, além da palavra, a voz. Como moinho, ventilador, farol. Estilingue. Uma amplidão do verbo. Hoje ainda espalho flores e jardins.
Aqui, a correria de pássaros. Lixos e fantasmas. A calmaria de coqueiros, olhares e quintais.
Como um feriado que não se esconde. Uma extensa listra de azul sobre os gafanhotos que teimam em pular pela janela.
Amiúde gatos e cães, se felicitam pelas esquinas da cidade, como uma buzina do trem que socorre amores impossíveis. Ainda estala em mim, o tilintar de galhos e gritos. Acostumando o flerte da manhã com o pressentimento de que, o eco das alegrias, se espalha pelas pedras de uma redenção que não acorda jamais. Vestida de cirandas, armadilhas de uma incontrolável canção.
De um mesmo ser. Vastidão. Desértica. Uma voz que acalenta e endemoniza os meus véus e céus. De um raio com toda sua opulência que sacramenta beijos e chinelas.
Esse aglomerado de pessoas e vítimas. Como o produto que resta. Um banquete de falsidades e anacronias frágeis e medrosas. Disseminando com o seu olhar, a falta do que se tem por fazer. Como um eclipse torto, enferrujado e sem fisionomia.
Como uma torta e crepuscular língua, que dita moda e morre. Como um barco que se deriva das suas próprias costas. Da mente íngreme. Do amor inacabado.
Como um aperto. Uma peça de marfim que se depara com seus próprios erros. Números, símbolos, pântanos. Como um foguete de luminosas e efêmeras falsidades insidiosas. Como uma víbora, um lagarto que se veste de sobras e desculpas. De esquecimentos e olhares sombrios.
Eu preciso de moinhos e tentações. Muito. Como o ar. Que retempera meus pés e eu durmo.
Guarda sol. Farol marítimo. Mistérios dos meus dois olhos cambaleantes. E a curva de uma estrada que me faz vôo do seu próprio escudo repentino.

Cgurgel

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