domingo, 3 de fevereiro de 2008




ROCK COM FOLCLORE PERNAMBUCANO


Manacá, mistura cultura do sertão e ryffs inspirados no Mars Volta

William Helal Filho

Letícia Persiles ama a cultura pernambucana. Pesquisou a música e o folclore de lá e chega a falar com o sotaque. Mas a carioca não nasceu aqui por engano. Foi no Rio que conheceu o roqueiro paulista Luiz César Pintoni, quando eles tocavam numa banda cover de bar. O encontro pôs fim à carreira de botequim e deu início ao grupo Manacá, grande revelação de 2007, que vai lançar o disco de estréia pela EMI (produção de Mário Caldato Jr.).

Manacá é o nome de uma flor, tirado por Letícia da obra “O Romance d‘A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, de Ariano Suassuna.

A letrista e vocalista baseou sua monografia de fim de curso (produção cultural da UFF) no clássico e se meteu duas vezes no sertão pernambucano até São José do Belmonte, a 470 quilômetros de Recife, cenário da narrativa.

São dela as referências nordestinas que permeiam letra e musicalidade do Manacá.

— Gosto de escrever sobre o sincretismo brasileiro entre barroco e popular (caso da música “Diabo”, uma das melhores).Tenho relação afetiva com o Nordeste — explica Letícia, que, ano passado, fez a romaria do Padre Cícero a Juazeiro do Norte, Ceará.

Ela adora o teatro musical do Cordel do Fogo Encantado. Já a pegada roqueira que embala a literatura sertaneja vem do background “dos meninos”.

O guitarrista Luiz César curte Mars Volta e Led Zeppelin. Ele, o baterista Bruno Baiano e o baixista Daniel Wally tiveram outras bandas e eram escolados na cena independente quando o grupo nasceu, há quase dois anos. Luiz César até empresariou no começo.

— Um dos primeiros passos foi gravar um disco demo por conta própria, para ter o que mostrar — conta Letícia.

Foi preciso muito trabalho braçal para alavancar o lado criativo. O Manacá se convidou para abrir um show do Moptop em São Paulo. O nome do grupo sequer estava no cartaz. Cachê, nem pensar.

Mas os bons ventos carregaram até lá o empresário Marcelo Lobatto (Marcelo D2, Pitty e outros). Ele gostou do que ouviu e apadrinhou a banda. Daí em diante, o Manacá seguiu em ascensão. O ponto alto foi o show no Mada, o festival independente de Natal (RN).

— O show foi ótimo. Tinha caipirinha de cajá nos bastidores — brinca a cantora de 25 anos, cuja performance nos palcos invoca caras, bocas e gestos da porção atriz (ela estuda teatro desde os 11).

A banda tocou também no Circo Voador e no Teatro Odisséia, e o fim do ano trouxe expectativas. O Manacá assinou com a EMI e gravou seu disco no estúdio Toca do Bandido, em Jacarepaguá. O álbum foi pilotado por Mário Caldato Jr. — produtor de Beastie Boys, Nação Zumbi, Beck...

— A gente deu trabalho ao Caldato. Gravar um disco expõe imperfeições que eu nem conhecia. Foi um aprendizado, e o resultado ficou muito bom — diz Letícia.

Nenhum comentário: