terça-feira, 5 de fevereiro de 2008




Intactas
minhas duas mãos são tão impróprias
como uma ventania
que arrasta despedidas e catedrais

Minhas duas mãos
são tão apertadas
e suicidas
procuram pelos rostos mortais
de tontas vastas misturas finas

As minhas duas mãos
já não sabem o que fazem
de tão esquecidas e rôtas
já não sabem qual é o destino
que suas linhas apontam

Minhas duas mãos
são tão frágeis, sensíveis e surdas
como um mapa de um aperto de lutas
como uma crina para quem não se esqueceu de tê-las
e de tudo isso, para quem quiser,
explicá-las e perdê-las

E como palmas de um mesmo destino
elas, minhas duas mãos
são tão cúmplices de fantasmas
de riachos e de vermes

Elas,
minhas duas mãos
nem sabem o que os meus desejos perdem
encalacradas pelo viés da nostalgia exterior
e de um suor de um fardo que não desata

Assim
solitárias e boquiabertas
minhas duas mãos
passam a noite
em um enorme serão
de uma esfoliagem secreta

Como possuídas
por espíritos involuntários e perdidos
verniz
tapumes de acertos táteis
e de um adeus
que eu não quis.

Cgurgel

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