terça-feira, 22 de janeiro de 2008


O BELO E O PROFANO DE LaCHAPELLE


Heaven to Hell traz a síntese do trabalho do fotógrafo americano, conhecido por ressaltar a beleza no caos

Patrícia Villalba, de O Estado de S. Paulo


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São 25 imagens pinçadas do livro homônimo, lançado pelo fotógrafo em 2005, e ainda alguns de seus trabalhos mais representativos na área do audiovisual, especialmente videoclipes. "O livro reúne uma série de imagens que a gente traduziu como belezas e desastres. Elas representam exatamente a contraposição contida nessas imagens, do sagrado e profano, e a visão controversa e irônica do David LaChapelle da sociedade atual", define Chico Lowndes, curador da exposição no Brasil.

Heaven to Hell foi concebida para o Malba de Buenos Aires, no primeiro semestre do ano passado. Já o livro, encerra a trilogia iniciada por LaChapelle com o livro LaChapelle Land, há dez anos, e que tem ainda Hotel LaChapelle (1999). "Guardamos a exposição para trazê-la agora ao Brasil para coincidir com a São Paulo Fashion Week, quando existe uma efervescência muito grande na cidade em torno da moda", justifica Lowndes.

Conhecido como o artista que consegue fazer uma ligação coerente entre Jennifer Lopez - para quem dirigiu o clipe de I’m Glad - e Andy Warhol - com quem trabalhou no início de sua carreira -, LaChapelle foi desbravador da era tecnológica na fotografia e, desde sempre, mestre da pós-produção.

Suas imagens, especialmente as que compõem a exposição que chega agora ao MuBE, são conhecidas pela saturação exagerada de cores, que criam um clima de sonho surrealista, ao unirem a beleza humana a um cenário de apocalipse. "É o retrato de um momento da carreira de LaChapelle, uma compilação de alguns anos de trabalho, que reúne praticamente a produção de dez anos", explica o organizador.

Difícil de explicar, mas muito fácil de absorver. Só assim para definir o que o nome LaChapelle representa hoje no mundo pop, já que esticou seus tentáculos da fotografia, para a moda, música, publicidade, cinema e televisão. "O trabalho dele, ainda mais nesse livro que deu origem à exposição, extrapola a fotografia", teoriza Lowndes. "É um trabalho de fine art, de moda e também de retratista de celebridades. Neste momento de sua carreira, cada vez mais ele se mostra como um fotógrafo de arte."

LaChapelle é cria de Andy Warhol. Foi o pai da pop art que mais o incentivou no início de sua carreira, quando tinha 18 anos. Mas, muito antes dele, foi a mãe do fotógrafo, Helga, quem plantou a semente do barroco na personalidade do filho, que explodiria anos depois. Imigrante lituana, ela costumava vestir os filhos com trajes elaborados e fazê-los posar para fotos em frente a casas de outras pessoas, criando um mundo de imaginação.

Com Helga, LaChapelle aprendeu a estampar a criatividade, e de Warhol, recebeu o incentivo que precisava para misturar o trabalho criativo com o comercial sem pudor. Ele não faz distinção alguma entre uma foto feita para um editorial da Vogue Itália, por exemplo, e uma feita para um livro de arte - porque tudo é arte, oras.

Ex-ajudante de garçom do lendário Studio 54 de Nova York, LaChapelle convive desde os 15 anos entre "os que interessam". Hoje, se diverte desconstruindo celebridades de alto quilate e fazendo-as rir de si mesmas - Angelina Jolie, Pamela Anderson, Britney Spears, Madonna, Courtney Love -, em poses controversas, desafiadoras. Algumas seriam até vexatórias. Não fosse o crédito "David LaChapelle" para transformá-las em momento célebre.

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