quinta-feira, 10 de janeiro de 2008



ESTAMOS TODOS IRREMEDIAVELMENTE ESQUECIDOS



Quase sempre vejo as estrelas como figuras do passado. Mas hoje, quando acordei, tive um pressentimento horrivel. Era como um redemoinho que me roubava língua, pescoço e culhões. Arrastava-me feito um urso vadio, p'ro meio da noite, no espaço onde se vislumbra medo e intriga.
Foi como um vendaval que invadiu meu quarto, como uma força que me levou. Até hoje, por causa disso, invento uma resposta para uma pergunta que eu não sei como formulá-la. Sim, vagalumes me acompanham. O olor do universo, lá de cima, sua como pirâmides que anunciam anjos e trombetas.
Penso que ao redor de constelações estrelares, meu corpo tomará outra dimensão. Cânhamo de labaredas e faíscas de uma cor obtusa e dilacerante. No campo solar como uma luz avermelhada e infinita, somos partículas únicas e mortais.
Sim,no céu, onde se percebe a presença de morcegos e fogo-fátuo, o sombrio de um som invade espíritos e o desespero de quem sente tremor, como estátua de uma colina borrifando almíscar e candeeiros.
Vislumbra-se na entrada, o aparecimento de uivos e gemidos, fuzilando desocupados e famintos. Aéreos e debilóides. Cancela que range espaçonaves e a luxuriante sensação da morte, como ponto difuso de uma alucinação de quem se deixou levar.
Queira-me a força transformadora de uma onda do mar, que leva com sua fúria, o urdimento de um gatilho de pressurização que vai engolindo ateus e primatas.Boquiaberta estrela-guia espalhando fogo e destruição. Anunciando terremotos e degelos, fogueiras e insanidades frenéticas. Faísca que cai, como prenúncio do mundo que morre. Que hospeda ex-votos e hienas. Vestais campos magnéticos, bola de fogo, que inunda quintais e guetos. A memória da água que naufraga nos terminais bucólicos das asfixiantes metrópoles. Igual ao vagão de uma carretilha desgovernada.
Vulto que enfrenta o desperdício e a forquilha das marés. Como alambique da raça, que se acostumou com histórias da sua inequívoca imaginação. Como pássaro agil, esplendor maquiavélico de balas e estopins.
Parecido com zeus e judeus, pãos e vinhos, ventres e donzelas. Do tamanho da pupila daquele ponto. Do desconhecido que lapida túmulos e a vontade do recomeço. Como jangadas e cogumelos que se entrechocam, formando blocos e mais blocos da mais intergaláctica odisséia humana.

Cgurgel


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