sábado, 12 de janeiro de 2008


UM FIO DE GANDHI


Ouça bem: reinventar o universo é cantar a poesia de quem acredita na vontade das pedras que ladrilham o caminho da liberdade. Como pássaros que cantam o canto da paisagem que nunca é a mesma.
Assim é quem procura e descobre que a vida pode ser o biscoito fino do lado B. De quem, no atalho, demonstra frieza e suados pés. Como reencontro como a música da qual sonhou. De quem conquistou platéias.
Pode ser que Gandhi, na sua íntegra identidade, formule a voz de quem pensa e também voa. Com sua poesia, com seus grafittis, com sua insuspeitada vanguarda, suas paisagens.
Ele, tão bem fermentado, transparece bondade e rebeldia. Disposição e calafrios. E a vontade de brincar com hinos e harpas faiscantes. Provocando sangue e rito.
Pois Gandhi, Marcelo Gandhi, se flecha em copas, copos e cipós da terra, que um dia haverá de brindar com suas sementes. Ele (Gandhi, e ela ( a terra ), serão como a guerra prometida. Despedaçando ossos de quem não partiu.
Pois os cipós que nos são permitidos ver, estão todos maduros e prestes a avançar sinais. Desentranhando do caule e da flor, a paisagem de quem sempre necessitou da lenha , do fogo, da celebração dos nossos olhos e mentes.
A música de Gandhi, a poesia de Gandhi, as cores de Gandhi são profundas. Néon e louca. Elas borrifam e almejam o jardim de quem ousou com suas pétalas, folhas, escolher o caminho que lapida e ultrapassa perdões.
É assim, com gestos e gostos, que a arte que Gandhi cria, eleva o vôo. Ele é dândi, porque além de ser Gandhi, desfolha o brasão que compreende falas. Se comporta no mar que salva corpos. Alimenta a fome de quem jejua.
Gandhi é mensageiro do mais. Ele sempre quer a lucarna. Dentro da esteira que transborda, insufla o exame da verdade que dói nos olhos de quem nunca parou para pensar que somos feitos de átomos, ácidos e azougues.
Assim, todas as letras corrosivas que ele produz, pelas suas mãos desejadas de tontas cores, e de todos seus sons que estejam no íntimo dos que respiram perdidos paraísos; também é crucifixo, ora e devora no mar da descrença, da falta de coragem. Na velocidade que o pensamento dele, compreende ser.
Ele é ex tudo. Anacroniza posturas, fervuras e verduras. No seu jardim, jejua o chá dos cinco recados capitais: agoniza ao redor da maçã que o paraíso partiu, celebra calafrios, silencia no meio da noite que reclama, empalidece a sombra do vultos que aborrece e abriga neblinas de um tempo que se fez cume dos seus emblemas e peças. Somos mortais sim, mas revestidos pelo amuleto que a espinha do sal cinge, e da gema, que a clara do novo atinge.
Pois que Marcelo, com sua infinita bondade, nos brinde com seus anéis que alimentam os sóis que aguardamos e queremos ser.
Que Marcelo com sua cabeça de Gandhi, raspada, tinture todos os nossos pensamentos. Como pintura que requer paixão, incontinência e prazer. Tudo como se fosse o nosso lugar, e ao mesmo tempo, absolutamente cosmopolita.
E que no som de Gandhi, híbrido, tribal, transfiguremos de alegorias. Contagiando o lixo, o léxico, o breu e o céu. De quem dança suspiros e sustos.
E que no seu semblante, de nuvens, fumaças, de vestígios e sombras, organize festins, raves, celebrações, prenúncios e provérbios da nossa infinita ociosidade.
Pois só assim, conjugando hóstias profanas, o seu som, a música de Gandhi; com todos nós, como hóspedes de todo esse beréu divino, promoverá tantos rumores. Estilhaçando a timidez, a sisudez de quem pensa que criar é simplesmente vigiar o portal onde nascemos.
Tudo ao som do seu ser, seu véu. Como uma nuvem que desfolha chuva de amigos. Transmutando-se.
E que no seu cordão encantado, o sangue que ele pulsa é o mesmo que ele pode. E que possa trazer de volta à vida, quem da vida nos tirou. Como só a sua poesia e a sua música conseguem.
E que o universo de Gandhi que está no seu nome, é o mesmo que está lá no lugar enigmático e irradiador de signos, ainda anônimo e incrédulo, mas sabedor de que a terra que queremos é fruto de muita meditação. Como enxague de corpos, no som da liberdade.
Pois Marcelo pulsa. Urra e farreia. Farela o segredo que o sêmen da vida virou. Pois a lua toda branca espelha a esperança da intimidade do ar, que revelou-se toda silenciosa.
E que Gandhi, ao redor dos seus prazeres, possa nos presentear o uivo vivo dos agregados do happenning. Como só a sua sábia mente encerra.

Cgurgel

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