quinta-feira, 17 de janeiro de 2008


PEQUENA BIOGRAFIA SONORA


Bater com as mãos. Escutar o som da rua. Ouvir os outros como quem confessa pecados. Ritualidade. Quando se tem noite, lua e o silêncio do som e da poesia que falamos. Essa acentuada aventura de celebrar poemas e canções. Da sinfonia do pássaro que voa e recua. Orelhas e olhos. Pandeiros e advérbios.
É com a noite que me torno pescador de palavras e de tons. Parecido com o som que que sai da rede que embala praias e varandas.
E o trem que traga trilhos e trilhas sonoras. O trem que vai e vem, repartindo estrofes de uma janela ferroviária que passa e se perpetua. Quânticas imagens cercadas de rosas, promessas de sopros, como nuvens que polvilham sambas, rocks e baiões. Como uma canção que responde a corações e crentes. Que assalta sonhos e sinos, soluçando cortejos e partituras.
Voz que eu canto e me encontro como um beijo guardado a vida inteira. Semelhante a sonatas e sonetos sem datas.
E o som que voce me pediu, sai como um pequeno poema frágil, precisamente parecido com seus pés, que carregam meus pulmões para bem lounge.
Releio como um ventilador que destila verbo e colhe sincronicidades, a cena e o tempo que meu coraçlão sugere.
Sou vocabulário da redenção do humano. Assepsia da celebração do amor e do sorriso que habita a noite insana.
Minha ferramenta é o silêncio. Mesmo que falhe muito. Mesmo que erre o erro vil. Msmo sabendo, que o quê se fala, é fruto de muita azia gramatical.
É como subir uma escadaria, e olhar para trás, e testemunhar os degraus, todos eles, repletos de vírgulas, interjeições, pronomes, exclamações, vogais e consoantes.
Pois eu faço música como quem faz poesia. Pois no meu repertório, cabe escracho, esquadro e espelho refletido. Poesia como quem gosta da noite. E o som que sai da rua que a cidade mora, é o sol que me cabe por inteiro.
Fazer som com a voz que vem do espírito que me carrega. E do olhar e guardar como seu véu, o rastro que percorro. Porque cantar nada mais é do que confessar amores. Despir-se, prometer palavras. O mais, é servir ao tempo, o seu mais precioso segredo: somos todos crianças e sanguinários. A beira de um colapso de versos.

Cgurgel

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