domingo, 13 de janeiro de 2008


MAL SÚBITO


Talvez voce tenha razão. É que ando me despedaçando pelos cantos, muros, esquinas. Me procurando pelas vielas, velas, barcos. Embarcações do meu ventre que venta e assusta os meus rápidos passos, frágeis como um pássaro que se cansou de voar. Assim sendo, assim mesmo, sou como uma rocha que blinda sóis e luas. E que vê passar pelo lume de uma ponte escorregadia, os últimos dias de uma temporada que me faz órfão de risadas e tragédias.
Tórrido sol de verão que me embriaga. E torce, como só ele é capaz, o meu coração já tão invadido das fuzarcas mundanas. Um dia, um mês, um ano, uma década. Onde estávamos nós? Na soleira de um enorme precipício? Como flores e fugas que fulminam o auxílio de uma face que vaga ao redor de uma aventura noturna. Serpente que abriga como um traço do seu impávido vale, o pescoço de uma deusa, que já não faz segredo de tudo que a sua beleza, ameaçe.
A alma como tempestade de lascívia, flerta com todos os encantamentos que os trilhos humanos liberam. Os olhos de todos que pedem, aprisionam com seus instantes, um pouco da sua eterna agonia, como centopéias, dragões, furúnculos marítimos. Um tenro e inesquecível redemoinho para nossos corações já tão distantes de uma luz que refizesse como um sonho, o que deixamos de razão. Um totem. Uma fogueira. Uma quadrilha de anéis que se arrastam pelas planíceis das nossas mãos solitárias.
O que se passa hoje pelas videiras e arbustos ciprestes, que se prolongam por toda a planície madura? Uma leviana lua, que vai recolhendo como uma papoula linda e acariciante, o novelo de tantas implacáveis e insuspeitas farturas de além mar.
Quando se acaricia e quando se rasguarda o som da palavra pelos montes de desejos e jogos da carne humana, o que reluz; nada fica como uma sombra que espalha lágrimas e efeitos de uma trilha inesgotável.
As mãos, quando se cruzam, planejam como faróis por dentro da noite que não termina, o loquaz pensamento de uma víbora que fuça e assassina. Assim são todos os vermes que rastejam pela planície de uma cor avermelhada e tonitroante, um idílio de segredos, silêncios e preces. Como uma ronda pelos mares, uma terrível praga, de todos os elementos que compõem, o que antecipadamente se chamou de lâmpada da hiena.
Tanto mar. Uma máscara de horrores. Uma ventania que não pára. Um nó no canto da montanha, onde se celebram o infortúnio dos desencontros. O vôo dos mistérios fartos. Uma pegada de uma lenta e desprezível lembrança.
Como um olhar que arruina o pressentimento de que tudo se cala. Celebrando flechas e fogueiras. Como uma porta com suas infinitas possibilidades de acolhimentos. E de um fogo que sussurra o vento que carrega o dia para bem longe. E de um outro olhar que salpica com o seu mirante, a inefável beleza do adeus.

Cgurgel

Um comentário:

Danina disse...

eu não acho o adeu belo.
soh gosto do partir.

Danina