quarta-feira, 19 de março de 2008




UM POR TODOS, TODOS POR UM


Por Alê Duarte

O diretor Todd Haynes tem intimidade com a música pop. São dele a biografia sobre Caren Carpenter encenada com bonecas Barbie e o ótimo "Velvet Goldmine", sobre o movimento glam rock no ínicio dos anos 70. O diretor também costuma recusar discursos e narrativas fáceis, bem como ousar e experimentar maneiras diferentes de se contar uma história. Sem cair nas armadilhas que uma cinebiografia convencional pode armar, Haynes nos presenteia com um filme surpreendente e, desde já, um marco no modo do cinema retratar um ícone da música. Antes de ser um filme inspirado na vida de Bob Dylan, "Eu Não Estou Lá" (em cartaz a partir de 21/03 em salas de todo Brasil) é uma produção que se embriaga da obra do músico e compositor.

Para começar, o diretor utiliza nada mais nada menos do que seis atores completamente diferentes para viver o que ele chama de “aspectos da vida e da obra de Dylan”. Realidade, ficção, músicas e letras se confundem em uma narrativa fragmentada. A cronologia pouco importa e várias histórias se embaralham para retratar uma trajetória só: os caminhos de um artista pop na Inglaterra dos anos 60, um documentário sobre um cantor de folk desaparecido no começo da mesma década, um garoto negro que atravessa as ferrovias dos Estados Unidos em um cenário que lembra os anos 30, um "Billy The Kid" perdido no velho oeste, um jovem Arthur Rimbaud deslocado no tempo diante de uma entrevista coletivae um ator em crise no casamento. Cada um desses diferentes personagens representa aspectos reais, inventados ou inspirados no trabalho do músico, mas nenhum se apropria de seu nome.

Se em "Velvet Goldmine", David Bowie proibiu o uso de suas canções para a trilha sonora, "Não Estou Lá" tem o trunfo de poder contar com várias das músicas de Dylan. Entre os atores, merece destaque a comentada atuação de Cate Blanchett como Jude Quinn, em uma perfeita caracterização do Dylan do meio dos anos 60. O papel, inclusive, lhe rendeu indicação ao Oscar de Melhor Atriz Codjuvante e ainda o Globo de Ouro na mesma categoria. Outra marca da produção é o fato de ter uma das últimas e boas atuações do ator Heath Ledger (de "O Segredo de Brockeback Mountain"), morto recentemente. Ele é Robbie Clark, um famoso ator à beira do divorcio -- recorte que representa a crise conjugal de Bob Dylan com sua mulher Sara, nos anos 70.

Misturando tramas, personagens, passado e futuro, "Não Estou Lá" monta, de forma ousada, um perfil cinematográfico de um homem que já é um clássico da cultura pop dos séculos 20 e 21.

5 comentários:

Lola disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lola disse...

Olá,
Parabéns pelo blog...
Se puder, dê uma passadinha no "Conciência" e ajude da forma que puder...
Beijo.

ON THE É (nada do que não era antes, quando não somos mutantes) disse...

Que bom Lola, a tua presença. Quem sabe um dia não faremos um poema à quatro mãos?
E é da tua "Consciência" que precisamos estar sempre embevecidos.
bjj
Cgurgel

Lola disse...

Olá,
Um poema à quatro mãos...Um poema "feliz"...Espero...
Sobre tua última frase, fiquei lisonjeada...
Obrigada.
Um beijo.

ON THE É (nada do que não era antes, quando não somos mutantes) disse...

Se eu fosse, no poema à quatro mãos, conjugar a "felicidade", certamente ela não cairia como uma luva. O contraste desse meu "mergulho", e o seu belo e precioso verbo, é que, ao meu ver, resultaria em uma comunhão de imprevisíveis conexões. E isso destingue. Me anima.
(xêro de uma caatinga virtual)
Cgurgel