domingo, 2 de março de 2008



ENFERMARIA DE BRINQUEDOS E CIÚMES


sou somente o mínimo possível percebível
graças
ao crivo de um cravo
semente

sou
simplesmente
único
um platô de circunstâncias
pleno pulmão de uma ave assassina
demente

sou
como voces sabem
um pária
um molusco
um vária

sou
somente
o que dizem de mim

alguma coisa disforme
um apanágio
um espantalho
talvez um baralho
barulho do fim do que me resta

uma besta
uma fera
uma cesta
uma vela
deveras

sou
como não poderia deixar de ser
uma bolha
talvez de cifrão
certamente de barro

eu sou
um pouco de tudo
um lúbrico
como um anzol
um pincel
um binóculo
e um escarcéu

como uma gangorra
que voa
solta

como um pígarro
um gargalo
de nós

mas só sou
como uma espera
que brilha

ao redor dos meus medos
um arremedo do fim
um fantasma no jardim

como um tráfego
de caras
faces
fisionomias
e títeres rostos

sou assim
como nunca vou deixar de ser

uma fagulha
de uma parede que mora ao lado

eu sou sim
uma muralha
um estopim
bem estocado

como só os piores pios dos pássaros espiam:
uma lama de pés
aqui
e no convés


Cgurgel

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