quinta-feira, 6 de março de 2008






POESIA E MÚSICA EM (IN)COMUM RESSONÂNCIA

A concepção desse disco se deu, pelo menos a idéia rarefeita, quando eu e Glauco estávamos numa viagem de volta da praia de Porto de Galinhas para casa, Recife, e estava rolando no som do carro Manuel Bandeira recitando suas poesias intercaladas com o piano de Belkiss Carneiro de Mendonça, tocando Camargo Guarnieri. Então, pela amizade que já tínhamos com Jomard Muniz de Britto, vimos a possibilidade de gravar um disco com ele recitando também os seus “atentados poéticos”.
No princípio, a idéia era gravar ao vivo com ele declamando os textos ao mesmo que nós estivéssemos tocando, com a banda completa improvisando. Mas, devido à dificuldade técnica de gravar tudo de uma só vez, resolvemos gravar cada instrumento separado para obter uma qualidade melhor. Então Jomard gravou os 10 “atentados poéticos”, no estúdio Constelasom de Ricardo Silva em Recife, e me entregou para iniciarmos o trabalho.
A primeira tentativa de gravação foi verificar quais das minhas composições e de Glauco poderiam funcionar com os textos. E muitas delas realmente se encaixaram muito bem, como: Nunada (Ricardo Maia Jr.), faixa 2; Desmantelo (Ricardo Maia Jr.), faixa 3; Pássaros (Glauco Segundo), faixa 4; Canção de ninar (Glauco Segundo), faixa 5; Dia de euforia e Buraco (Glauco Segundo), faixa 6. A idéia das faixas 1, 7 e 10 foi de fazer trilha sonora de improviso usando as poesias e suas rítmicas orais e verbais como tema condutor das sonoridades. Já as faixas 8 e 9 foram compostas e arranjadas, por mim e Bruno, especialmente para os textos, respectivamente.
Os atentados poéticos de Jomard remetem à metalinguagem, política, pedagogia, filosofia, psicanálise, cinema, dentre outros aspectos latentes em seu dailogismo. Cada um dos textos traz referências às experiências do dia-a-dia da composição poética, entre humores e ironias do artista. Jomard dialoga poética com a atividade de cronista do cotidiano, sem comprometimentos partidários; sem tentar salvar os mundos, mas também sem nunca esquecê-los. Há um processo de luta cultural, propostas de alternativas à cultural dominante e uma redefinição do papel da vanguarda nesses tempos de pós-tudo(s).
O que se pode concluir é a importância desse disco para concretizar a relação entre Jomard Muniz de Britto e Comuna, num projeto em que ambos puderam livremente somar suas expressões num disco que pode ser classificado como poesia e música em (in)comum ressonância. Ou relutância?

Ricardo Maia

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