quinta-feira, 13 de março de 2008



JANELA DO MUNDO

por aqui o tilintar das palmas dos coqueiros como a me dizer que vale levar adiante sonhos e manhãs. a ingrata e inglória sobrevivência sobre a terra dos homens. e sobre o fermento, que corre solto, ao redor das fisionomias gastas de tanto, e tantas, sem ar.
acho que isso, rende o respeito ao sol e ao mar que me torna transitório de passos, alguns à deriva, outros à esquerda. penso, que viver, é como sacrificar atos e noites.
como não se voltar para a janela multiplicada de silêncios, de rascunhos, de alpendres e transitórios percursos?
soa, no mais tardar do dia, uma lástima de lágrimas. uma ventania que rouba das nossas mãos, um punhado de jóias. um néctar, como se fosse um verbal genocídio.
uma papoula que vai se intrometendo por cima dos nossos pensamentos tão vãos.
e de uma leve e imprevisível asa. testemunha do que deixamos pela casa abandonada de tanto se dar.
de uma varanda. de um vale. de uma cachoeira de estrelas e luas.
de uma fortuna de olhares que vão abandonando vestes e listas e mais listras dos que ficaram pelo meio do caminho. abandonadas pelo próprio ser, mais do que, dos seus rastros.
é de uma hora sem fisionomia que nos reconheçemos. é de uma fábula torta que falamos. é de uma idiotice e verossimilhança que respiramos, como embarcação tão frágil e obsoleta.
do ar, como uma prisioneira canção. do seu lívido espectro, como uma sombra de arrepios e desgastes d'alma. uma corrente de girrassóis que confundem nossa paciência, e somem. se perdem pelo meio da selva que nós próprios se damos.
é mesmo como uma serpente que nos presenteia com seu pescoço negro e sanguinário. como uma escalada de templários e santos gastos. uma vastidão de silêncios e vazios.
mesmo assim, somos como uma viagem que recolhe o paraíso que tanto sonhamos, uma aventura que não clama por simplicidades ribeirinhas.
ferrolho de tudo do que se perdeu. uma câmera de ar. um besbilhotado azedume dos nossos perdidos sorrisos. e de uma deslumbrante e devastadora poesia inacabada.
como prédios que esvoaçam sexo e tênues alertas.
como uma descalça imundície desse mundo tão declaradamente impróprio e fugaz.
como uma vela que encobre com o seu pavio, os milhares de restos de uma humanidade tão cúmplice de atalhos e procissões tontas.
não sei bem, não sei bem mais o que ver. o que vivo, é o que percebo do fim.
como um lúgubre lustre. uma partilha de acácias podres. uma palavra que já não tem alento.
de um todo que rodopia em mim, o sótão de escuros e escarros.
que a manhã, (se virá), será toda testemunha do que calo.

Cgurgel

Nenhum comentário: