quinta-feira, 27 de dezembro de 2007




A L M A


Socorram-me das muralhas que levam consigo
as sombras de uma saudade bem longe da vida
no remanso das horas como se fosse o abismo
estilhaços de um barco da celebração escondida

Empalha-me como um porco, profundo e perdido
no meio da lama, berço do sol da manhã
na nuvem que me molha, embrulho de um abraço esquecido
vazão do meu pecado, como réu da promessa pagã

E do negrume do meu pensar que chove lá fora
pedaços de mares, alcovas, sinagogas e ninhos
são como encomendas e luvas como se fossem esporas
como se a curva da noite suplicassem seus erros e espinhos

Ecos que se dilaceram na lembrança do que se foi
acompanham como passos os soluços das inúmeras pestes
é como um espectro que vagueia e renasce em tudo que se corroi
o silêncio dos morcegos, como se fossem lâmpadas e flashes

E na turba da qual me cerro e onde me encontro
repousam papoulas, hóstias, da minha caminhada para o além
promíscua como quem pensa que o quê se passa pertence ao outro
como se fossem vultos, sorrisos, vislumbres, que estão tão bem.

Cgurgel

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