quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Enfim, Chegou O Dia



ENFIM, CHEGOU O DIA

Como vai poeta? Aqui, o imenso torpor que atravessa janelas e manhãs, pêndulo de uma enorme e quixotesca fermentação que vai adormecendo luzes e faróis.
Sim, já não nos lembramos onde nasce o olhar que espelha e acompanha o círculo dos nossos desejos. Somos iguais aos enormes tonéis de vinhos, embalsamando mãos e o límpido olhar de uma garça que soluça e turva nossa generosidade perdida.
O cheiro escondido de pardais e tulipas, são como um desafio destinado ao tropel que resiste ao lado de uma involuntária preguiça. Assim, santos e sonhos, ventos e vinhos, aflitos e acentos, embrulham-se como presentes escolhidos para serem analisados à luz de velhas e esquecidas vozes, tão suplicando um resto de frio, ou a persistente evolução do sol, por não se compreender que o vôo de um enorme faisão, simpática e irretocável evolução aérea, reproduza, com inteira complexidade, o costume dos que pensam que a vida não passa de um carrossel de negras garras e infinitas amplitudes alcançadas.
E mesmo que os tonitroantes cavalos selvagens me alcancem, eu os vencerei. Como uma balança que se veste de ouro e prata. Por sobre um rio de medo. Espantalho e cadafalso. Como um soldado que imprime ao seu canto, uma série de descaminhos. Tortos, liquefeitos, bisonhos, sessentistas.
Sou a urbe que corre dentro de mim. O fato, a delícia, de todos os interstícios de uma garoa. Mundanamente me estabeleço. Como girassóis que remetem a um inequívoco erro. E, pelo menos, como parte de um episódio grotesco, eu me envio. Brancaleone da noite, pesado de tanta desonra. Estrelas já não me descansam. Ao léo dos meus destrambelhados destinos. Um pouco de louco, como todos nós devemos ser, como um espelho da minha alma refratária.
Benigno de orações e penitências. Uma doce e alfandegária aventura. Arco de uma trêmula visão torta. Promissor e cambaleante tropel que a mim acusam, como de resto, todo o meu viver. Uma fonte inesgotável de ourives e chocalhos. Vômitos e beijos. Espátulas bronzeadas de couro e birra. Um fantasma. Gótico. Insano. Viking.
E os meus cabelos já não se fingem. São como escudos, intermitentes canais que se proclamam vencedores de museus e traquéias. Uma turva e inconsciente batalha que eu armo, por mim e pelo meu insistente pensar. Uma atmosfera de jardins e praças despedaçadas. Por sobre a minha canção de tanta e exaustiva sofreguidão.
Não tenho noção do que represento nesse mundo que me chama de ladrão e vilão de maçãs e poeiras. Sou um monte de espelhos. Que dilaceram meus sorrisos e somem. Um quebranto que arrasto por sobre o belo e inesquecível rio. Prantos de sementes e do porvir. Um pouco do fim. Como só os desavisados inconseqüentes se permitem.
E como nada sei, vou pela troça do meu avesso. Pioneiro de gargalhadas e tonéis de cicutas. Um verdadeiro testemunho da maior espécie de latrocínio de missões e carícias. Um poente que nunca disse bom dia. Uma frágil e penetrante audácia. Medo de colibris e do instante que ainda não vivi. Depósito de ilhas, como desaparecido estou. Desaparecido das mãos que sustentam lodo e finesse. Uma antena que capta impropérios e o estremecimento que acompanha os meus passos. Combustível de urros e lástimas. Livre de poços e labirintescas guirlandas. Que me vão inaugurando um novo andor. Como sentinela de profundos cortes no sol, que me faz acreditar em salitres por sobre o tempo que resisto.
Sim, todos nós testemunhamos o vulcão que se abateu por sobre nossas cabeças, como se vestindo de despedidas e grilhões. Acho que até hoje não vi nada igual.
Deu-se que a vez de quem pensou reinar por todo o sempre, não conseguiu avisar aos pássaros doidivanos, o que se passou ao longo dos nossos sonhos e pesadelos, como retrato de um rosto retalhado por soluços e morcegos. Ninguém, absolutamente ninguém, impediu que os olhos do tempo, se pronunciassem a favor da multidão, como cetim que cobre pureza e escândalo.
Eu sei, e todos aqui sabem também, que nossa promessa de recortar o vento como uma bandeirola que conclama o ponto onde necessitamos declarar ao nosso suor, o destino de milhares de desafios, é como uma lufada de cochichos e olhares que chegam a ultrapassar o exílio de todos nós que resistem para entender seus próprios atos.
Corre o boato, que uma espetacular sereia, se abancou no mercado central, causando o maior formigamento de adeptos, bispos, juízes, sacristãos, enfermeiros, balconistas, ferreiros, perna de pau, colombinas, esmoler, sócio fundador, massagista, palhaço, médium, modelo, vigia, carteiro, oftalmologista, cabo, jibóia, menina, baixista, vela de aniversário, guaxinim, propagando a sua fama de recolhedora de graxas e serpentes, onde todos, absolutamente todos, se declaram simpatizantes de uma enorme e intimista sala, cânone de memórias e efeitos.
Os moradores da parte norte da cidade estão todos exaustos, como prova de uma promessa paga em torno do seu estorvo. E esse tipo de revelação, não dimensiona o mal, que porventura almas inteiras, galopes e urros, gravitaram por sobre a imensa e contumaz embocadura dos seus sentimentos.
Vozes são como estampidos, batidas nas portas que rangem e rezam por uma quantidade extrema de terços, vigílias e promessas. Identifico no meio da multidão, o resto de um corpo que baila, reanimando-se pela graça de um copo e pela paciência de uma calma que retorce mãos e abdómem. Como saboreando o odor de um lugar fétido e pobre.
Todos os parceiros, integrantes, companheiros, instrutor de leitos e feriados, estão como respeitando, cada um ao seu modo, o infortúnio que se abateu por todo sempre.
E é justamente aqui, ao pé dessa árvore, que o espelho onde se fitaram, o vagalume de uma força descomunal, e a parceria que foi aceita por todos os simpatizantes de uma ópera de acertos milimétricos, sincrônicos, onde se sente o poder que pulveriza por completo a azia que floresceu ao redor das mangubeiras e cachoeiras do bairro dos sapos e tragicômicos físicos.
Acho, por assim dizer, que ninguém se esqueceu de lembrar, o papel farisíaco que as milhares de donas de casa, ao relento, souberam deflagrar, ao organizar vigílias e matrimônios. Elas mesmo, estopim da desgraça alheia, foram encomendadas como fúrias de uma rua que celebra na última quinta-feira do mês, a encenação de uma polifônica quermesse de volúpias e circenses atos de uma intensa peregrinação alheia.
É de se supor, que todo esse burburinho, como uma prata recheada de feses e promessas, encerra uma parte triste de toda a comunidade assistida por essa já deflagrada insistência em se acreditar nas pedras que sedimentam o cálculo de quem pisou por cima dos seus alfarrábios e cisternas. O que se pode dizer, com relação ao que foi feito, é de uma monstruosidade tremenda.
Veja só: ontem, ao meio dia, o soldado que estava de plantão, carregou até a sala vazia, o cozimento de uma idéia que dilacerou o coração de quem passava pelo lugar. Milhares, centenas de vara paus, dispostos simetricamente por sobre os paralelepípedos falsos, zombavam da quinquilharia de uma lembrança que um papagaio espalhou pela cidade, que custava a se acreditar. Ele, sustentava sobre os culhões, que em uma determinada parte da fundação da cidade, moços saudosos de um banho na lagoa, se danaram sobre o mato e o manto sagrado da religião, para proferirem em frente à sacristia da única igreja da cidade, o boato de que uma determinada senhora, publicamente acusou o padre da cidade de masturbar ela.
Agora, fora do improvável respeito, voces imaginam do que isso causou de resultado, para a formação de uma nova geração sempre concebida por algibeiras e matemáticas alegrias? Isso, ao que parece, fez com que o papagaio lúgubre e interiorano, desaparecesse, por um bom tempo, do convívio de quem sempre lhe quis bem.
Marcondes, o único habitante que se nomenclaturava, se dispôs in vitro, a obedecer os desejos de um vento barroco e arretado.
Eu não sei não, mas depois de um dia que ninguém mais dormiu, o que se observa no caminho que todo mundo passou, é como se fosse o destino que se abria. Uma vasta e inesquecível peça musical apareceu. À frente, a alma de quem sempre viveu só. E pelos lados, o sangue de quem sempre desejou viver acompanhado de almofadas e saguins.
Assim, para terminar, deixo aqui uma profecia de um anônimo e secular anfitrião que testemunhou todas as complexidades do que pode se considerar, ao observar, quando habitamos a serra onde saem e voltam tesouros: " Só o enriquecimento da minha história, some, o que sobrevive são os galhos das árvores, como sombras de um passado que ninguém esquece".

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