quinta-feira, 1 de maio de 2008





TUDO POR UM FIO
( o poetamigo Carito foi lá nos assistir, e escrevinhou com sua peculiaríssima maneira de ver, o que sentiu )


O percussionista Cacau Arcoverde tirou melodia de um fio nem sei de quê. O músico Anand Rao fez rock and Rao. Explico: Anand Rao teve atitude rock ao aceitar o convite do poeta Carlos Gurgel para a performance do desconhecido, o que já é uma marca de Anand - ele é conhecido no Brasil pela sede de improviso.

Conversando com Rao ele confirmou minhas impressões: dá um tom de estranheza atonal à fonte bebida em clubes de esquinas, com uso e abuso de estudos de harmonia a serviço do inusitado. Tão inusitado como o som do fio de Cacau Arcoverde, como os (des)caminhos da poesia de Gurgel que atalhavam e talhavam com os de Anand e Cacau. Tudo foi construído e desconstruído não por acaso e por acaso ao mesmo não-tempo. Não por acaso que essas forças estiveram juntas sob o título de TRIUMVIRADO. Por acaso as performances pareciam ir e vir, com a sensação de não sabermos onde termina uma e começa a outra, como nos velhos vinis progressivos-experimentais setentistas.

Provocar sensações, despertar sentimentos, talvez tenha sido isso mais que tudo no evento dessa noite. Mais que a pouca gente, mais que o sumiço do mesário que não voltou em tempo de corrigir uma falha técnica. Mais que a falha que pareceu performance para alguns. Tudo tão rápido, parece até que não aconteceu. Mas que nada. Mais que nada, com o ponto no i. Com o i fazendo ponto na esquina. Como medir o tempo de um espaço? De uma esquina intensa, diversa, mesmo quando e talvez por isso - adversa. 20 minutos? E o tempo que fica e não sai mais do nosso espaço interior?

Anand disse a Gurgel que se tivesse dado muita gente nesse evento experimental ele desconfiaria da qualidade de seu trabalho. Um clube sem saída, cuja entrada é o preço da contramão? Os a(s)tro-pêlos? Gurgel estrela em cio, Anand estrela em brio, Cacau estrela em fio... Tudo por um, e todos por um. Fio da navalha-me Deus! O corte está lançado! No céu da boca da noite: devora-me e eu nem te decifro...


Carito
"Poetas Elétricos"

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