segunda-feira, 26 de maio de 2008



MORRE O POETA PIAUIENSE H. DOBAL

O poeta H. Dobal — ou, no registro civil, Hindemburgo Dobal Teixeira —
nasceu em Teresina, em 1927. Advogado, foi funcionário do Ministério da Fazenda. O poeta publicou um bom punhado de livros, mas os críticos consideram sua primeira obra, O Tempo Conseqüente, de 1966, um dos momentos mais marcantes de seu trabalho.
Sobre esse livro, Manuel Bandeira escreveu: “Só mesmo um poeta ecumênico como Dobal podia fixar sua província com expressão tão exata, a um tempo tão fresca e tão seca, despojada de quaisquer sentimentalidade, mas rica do sentimento profundo visceral da terra”.
De fato, o que chama a atenção na poesia de H. Dobal é essa fina emoção lírica construída, paradoxalmente, com um discurso árido, firme, substantivo. Mas não se pense que o termo árido, aí, tem a ver apenas com o agreste da região natal do poeta. Existir é árido, em qualquer quadrante, em qualquer estação. É o poeta quem avisa, de olho na paisagem de Brasília:
Dói o verão
esta pele seca
estirada
sobre os ministérios vazios.
A poesia de H. Dobal é como um grande pássaro que estende as asas sobre o campo e a cidade. Vai das cabeças d'água do rio Surubim e do chão das vacas e ovelhas até o mármore morto dos viadutos. Uma poesia que se debruça sobre o esporte amargo de viver e sabe que o destino sempre leva vantagem. E a cinza das roças é a mesma que ameaça os monumentos.
Estranho — e injusto — é que um poeta como H. Dobal tenha uma obra praticamente desconhecida. Não há livros do poeta no mercado. Descobri que a Livraria Corisco, de Teresina, publicou em 1997 uma poesia completa de Dobal. Mas nem a própria editora tem mais essa obra. Ainda há, parece, uma edição de O Tempo Conseqüente, também da Corisco. Só que a edição não é distribuída nacionalmente. Mandei um e-mail para a editora, na tentativa de obter informações mais precisas. Não obtive resposta.
Quem me chamou a atenção para o trabalho de H. Dobal foi o poeta Donizete Galvão. Depois que Galvão me deu a dica, li na internet alguns poemas de Dobal e fiquei impressionado. Em seguida, observei que Manuel Bandeira, em 1964, já o havia incluído em sua Antologia de Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos. Bandeira foi também o autor do prefácio de O Tempo Conseqüente.

Carlos Machado

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