quinta-feira, 27 de novembro de 2008


PAUSA

sou nitroglicerina
quando a situação
me insiste

aqui
nesse povoado de merda
marrecos cagam no quintal

lá em cima
na ribanceira do ócio
todos tagarelam sozinhos

uma procissão
se forma
percebo
entre os seus
eu

caminho
como quem não quer
fazer parte da corrente

e os dias são tão longos
parecem mais
com a minha calma
que de tranquila
nada escapa.

Cgurgel

SELVA

troco farpas
jamais mapas.

Cgurgel

quarta-feira, 26 de novembro de 2008


ÁSPERA

nunca me esquecerei
de tudo que me destes:
como um lança-chamas
que me vestes

assim como uma voz
que de tão distante
me fala de tudo
que sempre sonhei
encontrar

tudo
tão belo
do seu olho
que me brilha

e
um silêncio
tão áspero
quanto o teu rosto
que me pede para ficar

tão tudo
tão pouco
chega dar saudade.

Cgurgel

RETORCIDO ALUMÍNIO

sim
é isso
como negar?
dessa terra de pele
e irredutível olhar
como só a areia do rio
que nos faz promessas e segreda traições
assume

assim
é tudo tão incompletude
uma vaga noção do ar
tudo tão intensamente aprisionado de flores e clarões


naquele morro
vivem pássaros e chuvas
um monte de passos
frutas
retorcido alumínio
tudo tão a cara da manhã que não passa pela porteira dos rios das cobras

mas
veja
eu sei que tudo continuará na mesma direção de sempre
como um frio que atravessou a lua
e foi dormir por sobre os pés descalços da jaboticabeira

depois te falo
agora preciso recolher olhos e dedos
e durma
a cancela por onde seu corpo passou
é tudo invenção dos seus olhos.

Cgurgel

terça-feira, 25 de novembro de 2008


VILEZA

aqui
por entre o lago e a ponte
enfermos se lambuzam

uma viela
tão escura
de alguns morcegos
e tudo podre

tudo tão lampejo
do que o homem vê

um grito ecoa
parece que a noite se foi

agora
só mesmo assim tão tarde
para encarar
essa vida assim tão à toa.

Cgurgel



assim aprendemos com os olhares
os mares dos desejos
e a infinita e preciosa ampulheta
dos nossos braços
ouso:
sim
aqui
e onde meu coração pousar.

Cgurgel

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

vício & paixão

domingo, 23 de novembro de 2008


acho que não vôo
e não me sinto livre
sou um punhado de nuvens e afetos
só.

Cgurgel



INTRO MISSÃO


talvez
não sejam nem daqui

mas
aqui chegando

se tornam
mais daqui

do que
propriamente
de fora.

Cgurgel

sábado, 22 de novembro de 2008




AUGE

incendeia-se
assim
quem se quer

fogo
como alma rejuvenescedora
um lago
de penumbras e achincalhes

assim
passa-se o tempo
como uma farândola
de pálpebras, ensaios e provérbios.

Cgurgel

sexta-feira, 21 de novembro de 2008



NÁUFRAGO

uma cidade submersa
de delicadezas e ruínas

como uma esquina
tão vasta e vazia

uma cidade de teclas
de desvarios e terreiros baldios

como um sítio
que descarrila de tanto hirto

áspero náufrago
de tanta inconsistência fóssil
e berlindas céticas

uma lassidão de fogueiras
que de tanta mocréia
impune
hermafroditamente vagueia.

Cgurgel

quinta-feira, 20 de novembro de 2008


RÉQUIEM

por aqui
o vento na coxia do poema
como a balbuciar inverdades e sextilhas

sim
e a rubra noite
que de tão devassa
me deixou nú
catando pão
e o sorriso de uma cancela

assim
o tempo
se vai
como proclamando a sua face
ensanguentada de brasões e estrelas

pois, sim
te mando um beijo
recheado de diálogos e silêncios.

Cgurgel

segunda-feira, 17 de novembro de 2008




habita-me entre teu rosto e teu pecado.

Cgurgel



GLÓRIA


a casa da minha mão
é a casa
onde eu
trafico e transito
ilusões



pode ser de noite
ou de dia
tudo está
na mais perfeita
agonia

a casa da minha mão
é tão pura e infiel
semelhante
quando eu me perco
e eu me acho

nada
como a casa da minha mão

(eu sei)
serei eu
para sempre.

Cgurgel

sábado, 15 de novembro de 2008


NOTHING

fixas
na parede
lembretes

tão suados
de um tempo
tão tarde
assim de
cor

tão de cal
e assim de cão
ao seu redor

tão rápidos
de fugas
assim
como quem vai
e entristece
o silêncio
que da língua
socorre

e da boca
que do céu se põe
tudo não resta
assim como
o silêncio
que por ti
passou.

Cgurgel

sexta-feira, 14 de novembro de 2008



MONOPÉ

o mal me come
e eu refaço
a cada dia
o que me some.

Cgurgel
PITYY & 3NAMASSA - " LÁGRIMAS PRETAS "