quinta-feira, 30 de outubro de 2008



VERTENTE


como só a paisagem
da passagem da rocha íngreme
intime

pela fresta da rocha
que de tão ensimesmada
afine

como a cobrir com seus rastros
o velame que o tempo
que o vento levou
carpine

quem vem lá
ao solar
que não resiste as intempéries do amor partindo?

Cgurgel

quarta-feira, 29 de outubro de 2008



PARTÍCULA DO SER TOTAL

radiografas com teus olhos,
o que tú vês com teus pés?

Cgurgel

terça-feira, 28 de outubro de 2008



O SILÊNCIO DO MURO DO JARDIM


aqui
nesse manicômio
animais são como corvos
que se entrelaçam entre tantas bombas e estopins

tudo tão dilacerantemente
espontâneo espantoso
estampido
desse mundo fudido

tudo tão fundido de uma rosa
que naquela esquina explode
de tudo tão de todos apogeus e cadafalsos
e de tantas chuvas de meteoritos que caem
sobre a janela do meu quarto

e nesse silêncio desse muro do jardim
já nada demais de tão obscuro desaconteçe
como só dessa terra já tão pouca
de tanto adubo para tantos corpos tão porcos.

Cgurgel

segunda-feira, 27 de outubro de 2008




vagueio pelo rio que me banha
ele me abocanha

velejo pelo rio que me cobre
ele me acompanha

navego pelo rio que me despe
ele me estranha.

Cgurgel



céu e mar
sol e lua
nado e nada
sal e solo
onda nua.

Cgurgel



quando eu me banho naquele rio
que um dia a infância levou
é como se fosse a aurora
que um novo tempo chegou
chegou como uma lamparina
que ilumina com o seu olhar
o lugar onde nasci
cresci
e vivi

e por entre as águas que me banho
acalanto com os seus leitos
os sonhos de um menino
que nunca morre
esperto,
igual a um guiné quando corre

e o tempo
como o vento que passa
atravessa
como o curso do seu leito
todas as lembranças
que me fizeram
peixe, cardume e caça.

Cgurgel


o que passo no rio?
o Rio que me pesca?
o que peço do Rio?
o Rio que me basta?
o que posso do rio?
o rio que me caça?
o que pasto no Rio?
o Rio que me acha?

Cgurgel

TORTUOSO

essa veia
via que vela
a fela de uma letra
estendida
pela lâmina
de um olhar torto.

Cgurgel

sábado, 25 de outubro de 2008


COMPLEIÇÃO

gosto de por os pés na areia do mar
gosto de silenciar
gosto de não gostar do que não me diz nada
assim de repente,
gosto de amy e de ingrid betancourt.

Cgurgel

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

CEGO OLIVEIRA - " NA PORTA DOS CABAREIS "

domingo, 19 de outubro de 2008


NO TOPO DA COLINA EXPERIMENTAL
Artista de amplos recursos técnicos; criador de toda uma estética originalíssima, a partir da fusão entre noise rock e música erudita de vanguarda; e figura constelar no âmbito da vanguarda novaiorquiana dos anos 70 e 80, sobre o qual exerceu decisiva influência, Glenn Branca é indubitavelmente uma das figuras mais interessantes e inovadoras da música contemporânea. Se há, aliás, um compositor que poderia ser classificado como PROGRESSIVO na mais legítima e genuína acepção da palavra, este é Branca, pois ao contrário dos Keith Emerson da vida, que se limitam a preguiçosamente adaptar / surrupiar trechos de ‘vacas sagradas’ do passado, o genial regente e guitarrista norte-americano forjou um novo estilo ao amalgamar rock’n’roll e música erudita em surpreendente síntese alquímica.
A trajetória de Branca teve início no fértil e irrequieto cenário da vanguarda multimídia nova-iorquina dos anos 70. Em 1976, Branca cria, com Jeffrey Lohn,suas primeiras bandas, as formações no wave Theoretical Girls e The Static. Ambas enveredavam por uma estética relativamente análoga a de outros grupos da cena (DNA, Mars, Teenage Jesus and The Jerks, Don King), ou seja, a incorporação de elementos do minimalismo (Reich, Glass, Rilley) e da drone music (La Monte Young, Tony Conrad) ao nascente punk rock; são já notáveis, todavia, as inusitadas afinações de guitarras, as texturas microtonais e a obsedante massa sonora gerada pela superposição de diversas camadas de guitarras, características que se tornariam marca registrada no trabalho do compositor.
Em 1981, lança sua primeira obra-prima, o álbum The Ascension, onde o escopo sinfônico, ainda que para um ensemble pequeno (4 guitarras elétricas, baixo elétrico e bateria), já se faz plenamente presente: são peças sobremaneira hipnóticas, densas espirais de radiância sonora evoluindo em movimentos cada vez mais obsessivos e inquietantes. John Cage certa vez classificou a música de Branca como 'fascista' e 'histérica' ("I found in myself a willingness to connect the music with evil and with power...If it were something political, it would resemble fascism"). A observação é de certo modo procedente, pois a música branquiana flui através de uma série de crescendos ominosos, sem desenlace ou catarse, de modo a transfigurar uma contínua sensação de apreensão e desassossego progressivos; não obstante, longe de ser um traço derrogatório, trata-se, creio eu, de algo que corrobora para tornar a música de Branca ainda mais admirável em sua busca tantalizante pelo inner void da tensão estrutural permanente.
Lesson No.2 e Structure são Sonic Youth avant la lettre, muito embora sobremaneira mais abstratas, angulosas e glaciais; fascinante exercício de contrastes, The Spectacular Commodity é simultaneamente luz e sombra em insólita convergência de vetores cromáticos dissonantes; Lightfield (In Consonance) é uma daquelas arrebatadoras walkürenritt eletromagnéticas tão características da obra de Branca, com suas trovejantes constelações de clusters circungirando em direção ao Infinito.
Por fim, The Ascension, sinfonia do caos über eletrik por excelência, inicia-se como uma ameaçadora nebulosa eletrostática em lenta mas inexorável expansão, para então entregar-se à mais emblemática das progressões geométricas de radiação hipercinética de todo o opus branquiano, terror e êxtase na mesma galáxia multiforme de estruturas sônicas em glorioso colapso.
Nos anos seguintes, Branca aperfeiçoaria esse formato, compondo sinfonias para conjuntos cada vez maiores (vale mencionar que figuras notórias do rock contemporâneo, como a dupla de guitarristas do SY - Lee Ranaldo e Thurston Moore - iniciaram-se na vida artística justamente com Branca); são obras monumentais e extremamente ambiciosas, onde o artista explora não só os páramos mais abstrusos da música ocidental contemporânea, mas também agrega elementos da música balinesa e indonésia. A partir de 1989, marcando uma guinada em sua obra, o compositor passa também a trabalhar com orquestração sinfônica tradicional, mas sem abandonar suas explosões de energia guitarrística concentrada, e assim desenvolvendo cujo rigor estético e ousadia conceitual nunca cessam de maravilhar seus ouvintes.
(por Kamikaze)

sábado, 18 de outubro de 2008


O LIXO E A MORTE

oh, dulcíssima catedral de merda!
que esbanja oligarquias e milacrias
entre palmares e estivas

onde regas o roubo explícito por todas as partes
tão desmesuradamente órfão de cafunés e academias
entre tantos deslavados porcos e personagens mortos

oh, dulcíssima catedral de merda!
onde medras o medo entre cegos e tão infantis belezuras
de tanta e tão pouca estatura e timidez obscura

onde preces e pressas entre hóstias e fariseus, ronda
tão catacumba de desafios e desaparecimentos tardios
de uma lousa louca e tão desvairada plumagem

oh, dulcíssima catedral de merda!
que de vão em vão em cima ou em baixo é dilúvio
de cada por cada de tudo por tudo é nada

e mesmo que persista o prosseguir da manada
o lixo, o oco, o troco, o salto de um ar cabisbaixo e infecto
fulminará a todos, restos de uma epopéia desumana e covarde.

Cgurgel

sexta-feira, 17 de outubro de 2008



CONTEMPORÂNEA


hoje me desfaleço de sims
tão pouco sentido há para as coisas
um porto que fala da madrugada já morta
de uma porta tão escura

o curtido de uma pausa entre séculos
como o morro que venta e não sossega
uma pétala de tanta destemida arruaça
um mergulho na alma de toda peçonhenta pessoa

e eu calo a boca de quem só pensa
como reformatórios dos seus passos no escuro
uma tão festa úmida de cadafalsos
um medo que de tão estranho, nos cega

e a troça que brotou daquele jardim
é uma coisa assim tão de antes-de-ontem
como réplicas de uma sociedade tão anônima
assim como aquele escorpião que encontrei na calçada

e do meio fio de cabelo
que fala baixinho para o meu cérebro
que não demorará para tudo se aquietar
e dormir o sono de quem precisa
de desatinos e carvões.

Cgurgel


o bichinho do rato sumiu
ele fragmentou livros e presentes
se escondeu por entre lixos e doces
dialogou com a noite como seu lívido sermão

apascentou o bueiro da vazão do banheiro
saciou sua fome como quem vai ao velório de um anônimo

e saiu por ai
como demarcando o seu espaço
e cantarolando que a vida vale a pena.

Cgurgel


TODOS OS OLHOS
Tom Zé
(A crônica de como se fez uma das capas de disco mais premiadas da história da MPB)

Procura-se um motel. Na São Paulo de 1972 isso não é lá tão fácil de encontrar.
O jeito é pegar a rodovia Raposo Tavares e afastar-se alguns quilômetros da cidade para estacionar o Fuscão 1500 bordô ao lado de caminhões que descansam sob a placa "Retiro Rodoviário". O rapaz tem 22 anos, é cabeludo, usa faixa na cabeça e calça boca-de-sino.
A moça tem vinte e poucos, é bonita, loira de cabelos compridos, tem os olhos claros, pinta de hippie e, assim como ele, é fã da Tropicália. Acessórios trazidos: uma máquina fotográfica alemã Praktika sem flash, quatro filmes Kodacolor ASA 100, dois abajures com lâmpadas de 100 W, fortíssimas, e uma caixa de... Bolinhas de gude?
Esses são os elementos usados na composição da foto da capa de Todos os Olhos, álbum do tropicalista baiano Tom Zé, lançado em 1973.
Tempo de ditadura. Toda a produção cultural, letras, músicas e arte-final do LP passam por censores antes de ir às lojas. Apesar da noite no "Retiro Rodoviário" não ser a única necessária para conseguir a foto da capa do disco, um ano depois dela Todos os Olhos vem ao mundo.
Os censores não atinaram para o que seria aquele fundo róseo com uma gema ao centro. Ainda bem. Tom Zé, o artista tropicalista, sabia que a circunferência no centro da capa era uma bolinha de gude. A repousar sobre uma parte verdadeiramente íntima do corpo humano, aquela mais abaixo do final das costas.
A idéia - de assombrosa afronta à censura - foi do poeta vanguardista Décio Pignatari, grande amigo de Tom Zé. Não eram tempos de brincar com a sorte. E toda a equipe de criação do álbum guardou muito bem o segredo.
Por ironia, logo após Todos os Olhos, Tom Zé caiu emum ostracismo e quase encerrou sua carreira. Em 1990, o americano David Byrne, ao pesquisar world music, descobriu o baiano. Produziu, então, o CD The Best of Tom Zé: Massive Hits e lançou-o nos EUA. Seria o início da retomada artística de Tom Zé, em franca atividade e produção até hoje. No encarte desse CD, torna-se pública a explicação do que está na capa de Todos os Olhos.
A transgressão vira troféu. Tom Zé torna-se cult. E o olho, róseo, pode enfim ser entendido como tal. E é uma das capas mais premiadas da música brasileira. Em 2001, quase 200 personalidades da música elegeram-na, na Folha de S.Paulo, a segunda melhor capa da MPB de todos os tempos, atrás apenas do primeiro disco dos Secos & Molhados, também de 1973.
O sutil e vitorioso acinte à ditadura ganha, naturalmente, a condição de capítulo fundamental na história da Tropicália - citado até em uma reportagem especial do jornal inglês The Guardian, em 2003.
E a história seria essa. Seria. Não fosse a revelação sobre o que, de fato, aconteceu naquela noite no "Retiro Rodoviário". O suficiente para que se afirme: o olho de Todos os Olhos não é o que parece.
O protagonista do "Retiro" era Reinaldo Moraes. Ele trabalhava como assistente de estúdio na agência de publicidade E=mc2, que tinha como sócio Décio Pignatari, já um grande nome da poesia concretista. O chefe encomenda-lhe a foto. E tudo fica por conta do assistente. Inclusive providenciar a modelo.
"Queria muito participar desse jogo de afronta, queria muito executar uma idéia do Décio Pignatari, de quem eu era fã", diz Reinaldo, 33 anos depois, já grisalho e não mais o "boy hippie marxista", como se definia. Hoje, é escritor de inspiração beatnik, autor do desbocado Tanto Faz (Azougue Editorial), entre outros.
Aos 22 anos, e diante de tamanha missão, Reinaldo pensa em Vera (nome fictício), uma namorada bissexta, para modelo. Aproveitando um clima de reconciliação, lança um "sabe o Tom Zé?", para introduzir o assunto.
No exato instante, o próprio Tom Zé, nascido e criado em Irará, sertão da Bahia, agonizava com a simples idéia de que se pedisse uma coisa dessas a uma moça:
-- Fiquei apavorado quando o Pignatari me falou que tinham encontrado a modelo. E ele retrucou: "Como é que você quer traseiro sem modelo?".
Vera, fã dos tropicalistas e de seu ripongo namorado Reinaldo, aceita o convite. E lá se vão, Vera e Reinaldo, de Fusca até o "Retiro Rodoviário".
A sessão de fotos. No quartinho mal-arrumado do motel, Vera, empolgada, deita-se de costas na lateral da cama. No chão, as bolinhas de gude. Reinaldo posiciona os abajures na diagonal, de modo que a luz incida diretamente sobre o alvo. A lente é uma de 50 mm colocada no avesso para fazer a função de macro, e fica a apenas 20 centímetros do corpo da garota, já quase de cabeça para baixo.
Começam os problemas técnicos. A bolinha não pára. Cai, rola costas abaixo. Tentam-se novas posições. E mais outras. Nada da bolinha estacionar. Reinaldo descreve o desconforto:
- Ela ficou constrangida, quis parar, mas eu estava obstinado. Continuamos tentando. Foi bem complicado...
A bizarra cena transformou-se em mal-estar. Quando beirava o insuportável, uma das bolinhas parou quieta. Reinaldo descarregou cliques. Consumiu todos os filmes. Testou velocidades, posições da luz, enfim. Fez-se de tudo, menos sexo. Deixaram para trás um quarto cheio de bolinhas pelo chão, sem coragem de se olhar nos olhos.
No dia seguinte, Reinaldo leva o resultado para a apreciação na agência:
- Foi uma atitude poética. Como foto, algumas ficaram ótimas. Mas, mesmo nas melhores, era evidente do que se tratava.
Décio e Marcão, o diretor de arte da agência, ficam desolados. Décio, então, pede nova tentativa ao assistente. E lá vai Reinaldo falar de novo com Vera sobre Tropicalismo... Desta vez, nada de motel. Vão à casa de uma amiga. E, antes que repetissem a luta contra a obviedade fisiológica, uma nova idéia.
Vera tem a boca grossa. Lábios cheios de carne bem rósea. Vale tentar. Ela topa. Prefere. Senta-se no chão com a cabeça jogada na cama e faz biquinho. Uma bolinha é colocada e dali não sai. Os lábios contraídos formam frisos que em muito se parecem com o que devem parecer. Uma única série de cliques basta para, finalmente, realizar a idéia de Pignatari.
Aquele não era tempo de Photoshops, e a imagem é impressa sem retoques. Uma boca se fazendo passar por seu extremo oposto. Simples assim. Nos créditos do LP (reproduzidos em sua reedição em CD) constam: direção de arte de Marcão, fotografia de Reinaldo Moraes.
Vera não quis ver as fotos. Deixou pra lá. Depois de mais outras idas e vindas, também deixou Reinaldo pra lá. Ele soube que ela mora no interior de São Paulo, é dona de uma pensão e não se casou.
Já o autor da idéia, Décio Pignatari, recusa-se a comentar o fato. Interrompeu um telefonema, que atendeu desprevenido, ao ouvir as palavras Todos os Olhos:
- Olha aqui! Eu já falei muito desse assunto e não tenho mais nada pra dizer sobre isso, viu?
Desligou, solenemente, na cara. Procurado outras oito vezes em uma semana, mandou dizer pela secretária que não fala sobre isso.
Já Tom Zé ouve atenciosamente a verdadeira história da capa de disco mais importante de sua carreira. E cai numa gostosa gargalhada:
- Hahaha! Então me enganaram esse tempo todo! F.d.p., me enganaram! Hahaha! ...E que alívio! A moça não precisa mais ter vergonha. E pode se congratular de ter sido personagem de uma rebeldia.
Ainda sob o choque da notícia, pede a capa à esposa, Neusa. Em silêncio, põe o vinil em frente aos olhos, analisa-o como se fosse a primeira vez, e matuta:
- ...É. Agora que você falou, dá pra viajar. Mas a gente não duvidava não... Pode ser uma boca mesmo, hehehe... Pode ser que seja mesmo, hahaha... E até ontem isso aí era oficialmente outra coisa.

(Texto Arquivo Site "Mopho")


em cima
do tempo
que eu tentei encontrar

me vejo em voce
tão seu, seu bamba.

Cgurgel

segunda-feira, 13 de outubro de 2008


MÍNIMA

nesse tempo de ciclones e abismos
a cerca da náu do ser humano
na mão tão frágil que o mundo se encontra
é tudo tão mínima

desse sangue que se espalha no ventre do vento
como lustre que saliva a gosma que escorre da rua
tudo tão pântano de um fétido universo
é tudo tão mínima

das asas dos pássaros que sobrevoam sua própria morte
truculentos tontos tanques que lapidam bizarros catarros e pús
uma vulva de um vale que pulsa e sofre
é tudo tão mínima

desonra maré do ar insano fruto tão lava qual sombra do nada
tanta cicuta da mistura tão fina do seu próprio esqueleto
como arvoredo do medo entre chácaras e óvulos tão mortos
é tudo tão mínima

e do irreversível precipício que ri e chora de si mesmo
nessa romaria de fé descalça e de tão fartos obituários
mosteiros de portos tão decrépitos de lâminas e máscaras
assim eu sigo: como tudo de vida tão ínfima e mínima prece.

Cgurgel

quarta-feira, 8 de outubro de 2008


ABRIGO

assim
reencontro
quando por ti
venero

pois
que entre nós
é tudo tanto

pois
que do teu olhar
forma despudorada
meu canto.

Cgurgel

terça-feira, 7 de outubro de 2008


IGNOMÍNIA

quando o dólar desce
aos borbotões
os guetos fedem

e
aos céus
toda a terra treme

aos crápulas
dos museus sepultos
o junco de uma folha podre

e ao dêmo
o astuto caminho
do seus ascos.

Cgurgel

quarta-feira, 1 de outubro de 2008



FÚRIA

inverossímeis são todos os espantos
dessa guerra podre e carcomida

que invade corações
e sangra seu sangue
na porta do amor ferido

inverossímeis são todos os recantos
dessa terra pobre e esquecida

que recolhe seus prantos
e distribui por entre seus mangues
o horto do seu andor perdido

inverossímeis são todos os encantos
como tantos, milhares, milhões de debilóides cantos
que acolhe seus táteis e infortunados santos

inverossímil
é o que ainda está por vir
nesse porvir qual raça da desgraça humana

em cima do monte
onde tudo há de partir.

Cgurgel