segunda-feira, 29 de setembro de 2008

17 RAMIRO MUSOTTO TEZCATLIPOCA DVD SUDAKA ao VIVO



PEDRA

aquela pedrinha que me destes
catada do fundo do mar
eu a guardo

como se ela fosse uma sombra
que mesmo sem saber quem eu sou
me resguarda de vendavais

aquela pedrinha
agora percebo
ela brilha
igual a uma trilha
onde busco encontrar
meu próprio ser

aquela pedrinha
já não mais se oculta
ela está tão impregnada de mim
que quando eu vou dormir
sonho pensando que sou ela.

Cgurgel

sexta-feira, 26 de setembro de 2008


CURVA DO VENTO

quando eu sorrio pelos meus lábios e lentes
é porque eles expulsam o horror que da terra treme
como um buxixo, um soluço, um espasmo
que a lua tão insana e bandida enrosca

e por entre o cume de um salto no escuro
como habitante onde o sol arde e mata
o arvoredo que urra e varre seus anéis
enternece uma louca e cataclisma sacra semente

e o farejo que dos pés de quem procura, arde
é como o canto e fenda do céu de quem partiu entre dentes
gruta, suma, como uma gangorra que surta e parte
mesmo como o vulto que da sombra da noite, estepe

e o sussurro das pedras que adormecem e sonham
não perdoa o silêncio de uma ave que voa
e sobre as estrelas que as árvores dos bosques disputam
crescem raízes que a própria briza de uma horda expulsa

e assim é como se despedir de arbustos, janelas e luas
e que faz a curva do vento se lembrar de abraços e desculpas
uma longa, delinquente e tão fútil atmosfera
semelhante a uma bomba que estoura os tesouros de quem nunca caiu.

Cgurgel

quarta-feira, 24 de setembro de 2008



MORENO+2, DOMENICO+2, KASSIN+2
Moreno e Domenico participaram de um grupo de músicos bastante influente no cenário independente do Rio de Janeiro, idos dos anos 90, juntamente com Maurício Pacheco (ex-vocalista do Mulheres Q Dizem Sim e atualmente no projeto de Marcelo Yuka, o FURTO), Pedro Sá (ex-guitarrista do Mulheres Q Dizem Sim e atualmente na Orquestra Imperial e na banda de Caetano Veloso) e Kassin (então guitarrista do Acabou La Tequila). Em todos os trabalhos do projetos há referências sobre esse grupo de pessoas que, até hoje, circundam o projeto, como por exemplo a regravação de Eu Sou Melhor Que Você, do repertório do "Mulheres Q Dizem Sim" ou a canção O Sal do Pedro Sá, presente no CD Futurismo.
Moreno, filho de Caetano Veloso, conheceu Domenico, filho do compositor Ivor Lancelotti no colégio, do mesmo modo como conheceu Pedro Sá. Por meio de Pedro, Kassin pôde conhecer Moreno e Domenico. Domenico atuou como baterista no "Mulheres Q Dizem Sim" e em respeitados grupos de música brasileira, como o Quarteto em Cy e o Jobim-Morelembaum, banda que acompanhou a última turnê de Tom Jobim. Kassin, com o fim do "Acabou La Tequila", passou a atuar como produtor, destacando-se no cenário independente.
X+2
O trio, após o lançamento do primeiro disco, "Máquina de Escrever Música", e ter se apresentado no extinto Free Jazz, passou a ser considerado uma novidade na cena musical brasileira. Porém, o trio não foi facilmente digerido e sua atuação nacional restringiu-se ao Rio de Janeiro. Entretanto, o trio passou a adquirir grande prestígio fora do país, como na Argentina e no Japão.
Moreno, Kassin e Domenico passaram a atuar freqüentemente em álbuns da música brasileira, como O Som do Sim, de Herbert Vianna, e Cantada, de Adriana Calcanhotto. Desse modo e, respeitados pelo histórico pessoal dos integrantes, o trio perpetuou uma grande admiração dos músicos nacionais.
O último projeto do trio, além do lançamento de Futurismo, foi o encontro com a cantora e compositora Adriana Calcanhotto, onde usam entre os mesmos o nome de '+3' ou '+ela', apesar das apresentações constarem como 'Adriana Calcanhotto, Moreno Veloso, Domenico e Kassin' e também na Orquestra Imperial.
MORENO +2
Em 2001, o primeiro CD lançado foi "Máquina de Escrever Música", com Moreno Veloso liderando o projeto, o qual tinha como foco dramático a voz e o violão de Moreno. O disco fora lançado pelo selo "Luaka Bop", de David Byrne. Os recurso musicais apresentados, muitas vezes inusitados, surpreendem com tubos não convencionais ou video-games portáteis. Composições de Moreno e algumas regravações como Eu sou melhor que você, de Maurício Pacheco, e I'm Wishing, do filme A Branca de Neve e Os Sete Anões, encontram-se misturadas com timbres de pás de ferro, pela percussão eletrônica e pelo imponderável “theremin”, o "avô" de todos os sintetizadores da atualidade. O projeto ainda se apresentou no extinto Free Jazz (atual Tim Festival), chegando a receber uma vaia - inicial - de um público que não estava acostumado com a estética do projeto. O disco foi incluído no livro 1001 discos para ouvir antes de morrer, do co-fundador da revista americana Rolling Stones.
DOMENICO +2
Em 2003, o projeto teve Domenico a frente. Com "Sincerely Hot", permanece o resgate de elementos da MPB, porém o experimentalismo e a mistura com a música eletrônica aparecem mais pertinentemente. As letras de Domenico destacam-se pelo compromisso com a ironia. Kassin, terceiro elemento do grupo, foi o responsável pela produção de Sincerely Hot, dividida em alguns momentos com artistas como Lenine, Marisa Monte, Bebel Gilberto, Arto Lindsay, Caetano Veloso e Jorge Mautner. Assim como "Máquina de Escrever Música", o segundo trabalho do trio fora lançado no Japão e na Europa, locais onde se apresentaram em inúmeros festivais.
KASSIN +2
Em 2006, com Kassin à frente, sai o terceiro disco do trio (lançado primeiramente no Japão)Futurismo. O trabalho foi o que mais chamou a atenção midiática para o projeto, uma vez que Kassin, como produtor, estava, à época, envolvido com vários projetos musicais, criando assim uma referência para os meios de comunicação. Futurismo chegou ao Brasil no final do mesmo ano pelo selo de Kassin, o "Ping Pong Discos". Com seis faixas a menos do que a versão japonesa e nove a menos do que a versão inglea, "Futurismo" conta com participações especiais, como João Donato, Jorge Mautner, Adriana Calcanhoto, Los Hermanos, Berna Ceppas entre outros.
( WIKIPÉDIA )

terça-feira, 23 de setembro de 2008

RITA PAVONE - "DATEMI UN MARTELLO " - 64'

segunda-feira, 22 de setembro de 2008



CICATRIZ


por onde fores
carregarás ao redor
tua maleta


onde estiveres
serás alvo da cobiça humana
como alce
que destampa e colhe grama

e
ao parares
não te reconhecerás mais.

Cgurgel

domingo, 21 de setembro de 2008


PRESSÁGIO


nuvens
são como nuvens
elas carregam chuva
e tem pensamentos sombrios

nuvens
são como chuva
elas estão no topo do universo
e nos presenteiam com sombras

nuvens
são tão imprevisíveis
assim como a chuva
que vem
e nos molham todos.

Cgurgel

sexta-feira, 19 de setembro de 2008


FUGA

a noite não pensa em ninguém
simplesmente colhe o orvalho dos seus traços
e a rua tão solitária
recolhe os passos por quem nela basta

os vagabundos
só eles
compreendem
o espelho que a noite espalha

é tudo tão pouco
assim
como um felino que por ela trafega
com seus olhos que brilham
iluminando o punhal de um assassino

e a noite
assim tão bela
adormece
e observa
o louco de um ladrão e os seus pertences da alma.

Cgurgel


ENTRE O VAZIO E A NOITE


o vazio
que a alma apresenta
sai em busca de água e descanso

entre os seus desejos
o líquido olhar do rítmo da chuva
que lentamente faz a noite girar

e os equilibristas trôpegos de tanto dançar
já não fazem questão de mais nada

simplesmente
sentam na calçada
e observam a série de medos e desejos
que passam ao seu redor

o vazio
agora
ri de si mesmo
como não acreditando no que vê

e a noite
tão deliciosamente pagã
dorme e sonha com seus anjos.

Cgurgel


QUEBRANTO


eu passo e não silencio
como uma flor que rompe o chão

nem que o corvo anuncie
que tudo é tão fugaz e paixão

também
parece que daqui da minha janela
o que sobra
é o mundo que adormece por entre os seus girassóis.

Cgurgel

quarta-feira, 17 de setembro de 2008



LÚMPEN

somente o íngreme susto com seus girassóis
haverá de nos redimir de feitiços e insônias
pois o corvo que da árvore habita
se alimenta dos seus sonhos e inúmeros sargaços

e aquela nuvem que agora para voce cresce
é mesmo uma coberta de lãs e venerações
como um périplo que se planta tardiamente no seu coração
entre árvores e olhares, como pasto, como membro fiel do seu nevoeiro


e mesmo que passe esse surto como quem assim deseja
uma enorme e inexplicável chuva a tudo inunda
e por baixo dos seus olhos uma face vê tudo e se cala
tão convulsivamente vã de suas lágrimas e cítricas línguas


e comovente, o fogo onde a guerra arde
cobre de ferro e amianto as ondas que do mar expande
como um cais que dorme e acorda vigiando todas as partes do seu paraíso
e do seu território expulsa como seu respiro, a vida e os seus infinitos
quarteirões

e eis que da mata virgem surge
como quem dela sobrevive e é capataz
o dono, proclamador das suas crias, tal qual sangue, saga
tão louco e tão insano verme, obtuário de si próprio e dos seus vendavais.

Cgurgel

LÚMPEN

somente o íngreme susto com seus girassóis
haverá de nos redimir de feitiços e insônias
pois o corvo que da árvore habita
se alimenta dos seus sonhos e inúmeros sargaços

e aquela nuvem que agora para voce cresce
é mesmo uma coberta de lãs e venerações
como um périplo que se planta tardiamente no seu coração
entre árvores e olhares, como pasto, como membro fiel do seu nevoeiro

e mesmo que passe esse surto como quem assim deseja
uma enorme e inexplicável chuva a tudo inunda
e por baixo dos seus olhos uma face vê tudo e se cala
tão convulsivamente vã de suas lágrimas e cítricas línguas

e comovente, o fogo onde a guerra arde
cobre de ferro e amianto as ondas que do mar expande
como um cais que dorme e acorda vigiando todas as partes do seu paraíso
e do seu território expulsa como seu respiro, a vida e os seus infinitos
quarteirões


e eis que da mata virgem surge
como quem dela sobrevive e é capataz
o dono, proclamador das suas crias, tal qual sangue, saga
tão louco e tão insano verme, obtuário de si próprio e dos seus vendavais.

Cgurgel

domingo, 14 de setembro de 2008


JOSÉ ROBERTO AGUILLAR: O DIVINO ARTISTA BRASILEIRO
por Jacob Klintowitz

O ar estava impregnado de palavras não ditas, pensamentos inconclusos, gestos contidos. Também a poeira suspensa que a luz filtrada nos vidros sujos da janela revelava era uma presença sonhadora e opressiva. Olhávamos um para o outro e tudo parecia nos separar. Eu estava com um terno beije escuro, o paletó de seis botões trespassado, camisa branca, gravata italiana de seda em tons de marrom e verdes e o José Roberto Aguilar vestia uma calça de jeans desbotada pelos anos, uma camiseta branca amarelada pelo depósito incomensurável de salpicos de pigmentos, de terra e, tudo levava a crer, alguma contribuição expressiva de mofo. A pele do meu rosto estava lisa da barba recém-feita, um pouco emaciada de inquietas noites mal-dormidas. Em Aguilar o rosto era um mapa de incógnito território, habitado aqui e ali por caprichosos tufos de barba que cresciam onde melhor lhes aprouvessem. Ele estava sentado à uma escrivaninha de tampo arranhado, de longínqua memória castanha, e eu, de pé, indeciso e pouco confiante numa cadeira que lembrava o espólio de uma arruinada família de arrabalde. Tudo parecia nos separar, mas nós nos olhávamos com manifesto interesse. E o José Roberto Aguilar, com aquele fluxo de espontaneidade que o torna divertido, irritante e escorregadio, as frases carregadas de erres, como se tivesse sido transplantado da Alemanha, explodiu: Jacob, você é um clássico!
Acho que este encontro foi em 1999, na Casa das Rosas, São Paulo, centro cultural estadual onde, incrivelmente, Aguilar era o diretor. Mas o ano não parece fazer muita diferença quando tratamos de José Roberto Aguilar, pois ele tem o curioso dom de transmitir a sensação de que o tempo não existe. Bom, em nome da verdade, o Aguilar nunca afirmou isto. Mas precisava?
Contudo, no oceano infinito de enigmas afirmativos que emana de José Roberto Aguilar, há mais este: ele se tornou o representante do Ministério da Cultura no Estado de São Paulo. E isto, não sei por que, mas talvez vocês saibam, evocou na minha mente o seu livro de 1981, “A Divina Comédia Brasileira”.
A capa da “Divina...” é uma chave mágica que abre o entendimento do assunto. Eu creio nisso. É uma fé arraigada que tenho. O fundo da imagem é uma pintura de Aguilar, com um número infinito de cores, texturas e tintas escorridas diretamente da bisnaga ou de uma lata com furos. A tela não tem alto e baixo, lado certo, sentido geométrico ordenador: o suporte inteiro é percorrido por traços, riscos, pingos, massas de pigmentos e obscuras frases cursivas. Lembra até a exaustão a pintura do americano Jackson Pollock (1912-1956), o primeiro a utilizar a lata cheia de tinta com furos e o despejo aleatório de pigmentos numa técnica que ficou conhecida como dripping. Pollock passeava sobre a tela carregando as latas furadas e as tintas caiam sobre a tela. O método furioso de Pollock ao pintar recebeu o nome de action painting. No plano da frente da capa da “Divina...”, os letreiros, a lettera, estão em preto sobre recortes brancos. Estes recortes parecem suportes oriundos de rasgos na tela. A cada rasgão um pedaço de branco. Alguma coisa de apresentação cinematográfica. E, comandando o espetáculo, o próprio José Roberto Aguilar de terno e colete branco, os braços levantados com se discursasse ou cantasse, a boca aberta. E as suas destacadas mãos estão envoltas por uma massa informe negra, alguma coisa preta. No início, pensei que fossem luvas de boxe, mas a lente de aumento revelou que são sapatos. Aí está uma imagem que não passa desapercebida: a roupa branca na antiga tradição do Brasil tropical, a pintura pollockiana apropriada antropofágicamente, a boca enorme e aberta, discursiva, anuncia o evento, canta ou grita. E as mãos calçadas com sapatos. Surreal? Dadaísmo? Ou, mais apropriado ainda, uma barroca esfera glauberiana gigante e girante a nos dizer alguma verdade sobre o ser nacional. Observem como certos mistérios aguilarianos nos levam a responder com delírios.
Deve ser destacado que a imagem de José Roberto Aguilar não só preside a capa da “Divina Comédia Brasileira”, como o José Roberto Aguilar é o próprio roteiro do livro. Nada no seu livro, e nos livros subseqüentes, se passa longe da sua fotografia, do seu gesto, dos seus pensamentos, dos seus desejos, das suas memórias, das suas sensações. E, nem neste livro, nem nos outros que lhe sucederam, ou nas suas pinturas, ou nas suas performances, alguma coisa fica minimamente distante da sua imagem, do seu retrato, das suas emoções. Não há distanciamento reflexivo, mas um emergir infinito. Nunca encontrei nesta minha já longa existência um narcisista mais glorioso do que José Roberto Aguilar.
Neste fluxo contínuo, neste fluir permanente de si mesmo, Aguilar tornou-se pintor famoso, eventual escritor de estilo espontâneo, oceânico e inventivo (espontâneo ? sabe-se-lá o que isto realmente quer dizer), e band leader de um grupo chamado “Banda performática” que costuma produzir sons assustadores.
É possível que o brilhante intelectual Haroldo de Campos, em 1994, tenha percebido quase tudo quando escreveu: “O Aguilar escritor é uma projeção feliz do Aguilar-pintor-escultor-performista. Tem achados que são peculiares à sua verve multimidiática. Tem giros oníricos que brotam, fascinantes, de seu imaginário. Sabe colher o imprevisto e a inovação”. Como era seu hábito, Haroldo de Campos entendeu e sintetizou o cosmo, mas temos que concordar que, também no seu caso, a resposta tem qualquer coisa dos ouros e dos círculos enovelados do barroco.
De uma maneira ou outra, impulsionado por esta lava incandescente que presumimos existir e se expandir, ou fertilizado pela chuva de ouro de Zeus, o fato verificável é que existem poemas e epígrafes de Aguilar que seria uma pena perder. É um bom exemplo este poema surpreendente sobre Jack, o estripador, no qual recolhe o mito moderno, a memória do horror de um matador de mulheres humildes, acrescido da inabalável convicção sobre a fácil e universal luz interior, tão comum na década de 60. Ele merece ser lido. É um poema publicado no livro “Tantra coisa”, editado em 1999.

“Jack, the Ripper

Iluminou-se.

Dentro da mulher

Rasgada

Só tinha

Luz.”
Ou este outro, mistura do poema-piada modernista com a remota lembrança do ritmo do Haiku, do seu melhor período (a partir de 1271), em que o pintor-poeta delicadamente sugere encontros, seduções, entregas. A associação do som do emissor mecânico (telégrafo, lápis, martelo, êmbolo) com a pulsação cardíaca, enriquecida pela idéia do corpo-emissor-receptor, paisagem onde tudo se passará, torna este poema exemplar. É quase um clássico, eu poderia devolver ao pintor-poeta, se a nossa época produzisse clássicos.
“Corpos em código Morse

tique taqueiam

convites”
Para facilitar ao leitor e poupá-lo de correr para a estante, coloco logo, ao menos, dois haikus. Lembro de Arakida Moritake (1472-1549):
“Eu penso: as flores caídas

retornaram aos seus ramos.

Mas não! São mariposas.”
E de Bashõ (1644-1694), o mestre mais conhecido no ocidente:

“Belo ainda na manhã,

O velho cavalo,

Sobre a neve.”
Eu também concordo, não é idêntico, não é exatamente igual, mas a comparação de um artista pop, como é Aguilar, com os mestres chineses e japoneses é irresistível. A extraordinária gravura japonesa, que tanto influenciou na invenção do impressionismo, tratava do cotidiano, da vida das pessoas comuns, das pontes e das paisagens. A crônica do homem no planeta. Desde o cubismo a arte utiliza os objetos cotidianos como assunto e, com a pop art, chegamos numa espécie de entronização da banalidade. Não se pode esquecer que estamos tratando de manifestações estéticas diferentes, mas há em comum este interesse pela simples existência. No caso destes poetas que buscavam a essência do sentimento, a sua vida de andarilhos, de homens na estrada, eles antecedem a atitude da geração beat, a liberdade na estrada, em rota, sem apegos à propriedade.
O que encantou o ocidente na descoberta do haiku é o vislumbrar a poesia em estado puro, despido da descrição e narração intelectual. A poesia como um ato de percepção imediata. Na gravura japonesa, que esteve na raiz da revolução estética ocidental, o aprendizado se passou da mesma maneira, na verificação da visualidade em si mesmo, no ser que é, na ausência da estrutura intelectual. O que interessa nesta associação de Aguilar com mestres de tal porte (já quase me arrependo de ter iniciado esta análise) não é a comparação da qualidade poética ou das imagens, o que seria injusto com Aguilar, exigir tanto dele, mas perceber que o artista também procura a revelação do momento, o inesperado, o fluxo de energia. O que explica muito do processo de sua pintura.
O jornalista Edwaldo Pacote, uma espécie de mestre da simplificação, com a sua qualidade e faro do repórter que circunscreve o factual, disse que “...Aguilar pinta o caos de uma maneira organizadamente desorganizada.” E mais não disse e nem lhe foi perguntado. A crítica de arte Sheila Leirner, em 1981, também estava a procura do entendimento do peculiar método:“A linguagem de Aguilar, no entanto, pelo fortíssimo sentimento de identidade individual, talvez, não se prenda ao conceito. Vulcânica, dionisíaca, crítica, opulenta como na pintura, rompe as amarras do discurso e oferece um jorro delirante de imagens. Na sua convicção anárquica e surrealista, ele é o herdeiro do dadaísmo, o artista sempre criança da “revolução sem revolução”.
Para Aguilar é tudo muito natural, como se pode perceber na sua aventura em “Hércules Pastiche”:
“Me aproximo do bar e pergunto ao garçom:

Quem é aquele homem ?

Ah, responde, ele é

A ORELHA DE VAN GOGH.”
O método Aguilar de criar arte? Evidente, é o sistema Orelha de Van Gogh.
O extraordinário físico brasileiro Mário Schemberg, ativo crítico de arte, colocou José Roberto Aguilar no realismo mágico. E como o realismo mágico contém este elemento de irracionalismo latino-americano como critério de verdade em oposição ao cartesianismo europeu, há nexo no conceito do professor. O instinto redentor em oposição ao planejamento salvador. Não vai muito bem o nosso mundo, não é ?
Eu tenho a intuição de que Mautner é a imagem de Aguilar no espelho. Erudito e visceral, o visível paradoxo de Jorge Mautner o transformou no “gauche” mais famoso do país. É justo que, nesta maré de depoimentos, esteja o dele, feito neste ano de 2005, a respeito do nosso pintor, mesmo que desconfiemos que seja autobiográfico:
“A pintura de Aguilar é um permanente desvelamento de segredos e mistérios que ao serem decifrados criam imediatamente mais enigmas, mistérios, vertigens, iluminações. Em todos os momentos Aguilar borda estrelas do Cruzeiro do Sul em suas telas, sejam ocultas ou manifestas. Percorre a sua obra a mesma vibração da música, da música da alma e das estrelas, a pulsão e a pulsação de todas as dissonâncias transformadas em serena calmaria de amor e paz cheias de vertigem de belezas rodopiantes”.
Fiquemos, para terminar, com as manifestações verbais do pintor. A primeira, engraçadíssima, uma nova versão do tradicional tema do “pintor e sua modelo”, que já nos extasiou em tantos pintores, entre eles o mago Pablo Ruiz Picasso.
“Fora com os intermediários.

O pintor foi chutado

Para escanteio.

O affaire entre a modelo e as tintas

Foi total.”
O segundo poema é uma manifestação sensual de José Roberto Aguilar. Nele o poeta é elegante ao descrever o rio leitoso sobre o corpo feminino nos deixando entrever a chama que terá incendiado aquele cenário e é comovente aos nos apresentar Caronte, o barqueiro das almas, perdido de sua missão de condutor. Eros é maior do que a morte.
“Um rio leitoso

passa

pelo corpo

da moça

enquanto

Caronte

tarado

rema

esquecido

das margens.

VELAME

penso
que o melhor é pensar
pensar nas algarobas que aos poucos fui deixando pelas avenidas
da infância tão próxima de rodas-gigantes e precipícios

penso
eu penso que o melhor é pensar
como habitante ilustre de uma ilha, que sedimentou em mim, a vontade de
colecionar sonhos e retalhos da minha alma impregnada de silêncios e turbilhões

penso
que eu penso que o melhor é pensar
naquele velocípede que me levava em ladeiras e sombras de oitizeiros, como
quem preza pela boa amizade e louva o escuro da noite tal qual sala de estar

penso
que o melhor é pensar e pensar
que me imagino assim, como um viajante que toda vez que abre a sua mala
se recolhe de búzios e cancelas, como uma lança pontiaguda que dilacera
o meu sorriso ingênuo de tanto chorar

eu penso
que o melhor mesmo é pensar no pensar
como homem que vagueia por entre arbustos e florestas, como lupa, que
separa a noite do dia, e não se cansa de acreditar na inviolabilidade
dos seus fantasmas e fantoches do seu próprio serzir.


Cgurgel

sábado, 13 de setembro de 2008



PARÁFRASE

escreves

e uivo
pulsa
incontido

em blocos
palavras
ruínas
como lixo dentro da lixeira

rascunho
estalo
qual o quê
mesmo assim
uma fileira
um fila que dobra o quarteirão

o que eu vejo
escrevo.

Cgurgel


DESAPEGO

eu sei o que pode te fazer bem
eu faço tudo que voce me pedir
eu simplesmente sinto que nós seremos felizes
eu jogo bola na hora que voce vai as compras
eu serei fiel mais do que qualquer outro
eu juro que nada do que voce me disse é verdade
eu cortarei o cabelo do jeito que voce gosta
eu sei que por mais que voce fale, eu saberei te entender
eu nunca vou fazer nada que voce não goste
eu sou feliz porque eu sei que voce me entende
eu subirei na escada para apanhar a lua e te dar
eu te sigo até a esquina
eu sei o que pode lhe fazer bem
eu todo dia rezo para voce ser mais bela
eu digo para voce que eu estou bem, mas eu estou uma merda
eu espero voce como quem sabe o que faz
eu juro que amanhã vai ser diferente.

Cgurgel

terça-feira, 9 de setembro de 2008


REBOCO
as paixões existem e depois acabam. já sou simpatizante de encontrar uma moça simples mesmo, sem nenhuma urbanidade, pois penso que sinto vontade de me aproximar do que sei que é mais compreensivel e reconfortante. assim, ela aparecerá entre gerúndios e vilas, amanheceres e uma flor na lapela dos seus lábios. uma casa simples também, é o que tenho. com vista para a rua, e quando a lua chega, insistentemente todas as noites louvo a sua existência. como um crepúsculo do que a enorme luminosidade dela me encanta. assim, passam-se as horas e olhares. certamente o que ainda virá, é o que espero. cintilante, caleidoscópio do que minhas mãos compreendem. apesar de que, todos os dias, um clarão surge ao redor da minha sala, como me confidenciando, que serei testemunha do que sonho. simples como já falei, mas precioso demais para meus olhos que gotejam sonhos e retratos do caminho.
o que estarei esperando?
uma nova roupa?
um pouco de vinho na noite que nunca acaba?
ou o ressoar de alguns macaquinhos que teimam em trafegam por cima do meu telhado?
ah! que me dera ser arqueiro dos meus próprios rascunhos... tenho pena da maldade alheia. como também, de tudo que galopa pelo seu redor. peço, sim, uma boa nova que me contente de mimos. como só a um simples homem destina. uma pouca de uma vazante do rio. ou um cafezinho da beira do quintal dos meus amigos de antigamente. não peço nada! eles é que me trazem! e sabe porque? porque eles acham que eu sei onde está o rastro do caminho onde eles perderam pérolas e azedumes. quem me dera... não consigo confabular com os anjos e medéias. se ao menos possuísse a chave que certamente abriria o vale das maçãs? não, já é muito tarde. agora eu vou dormir. e estou louco para escutar de novo patti smith. boa noite. agora, eu sei, eu durmo e sonho. justo como pedi ao sol que hoje me visitou e me presenteou com seus irretocáveis conselhos. boa noite. assim será.

Cgurgel

segunda-feira, 8 de setembro de 2008


UM ARTISTA MULTIFACETADO E ORGÂNICO
por Lorenzo Mammi
(fragmento do texto "Nuno Ramos" 1994)

Ser artista de vanguarda, ainda que de vanguarda em crise, significa, em primeiro lugar, acreditar no conteúdo da verdade da arte. Isto é, acreditar que a arte expressa algo de essencialmente verdadeiro que não pode ser alcançado por outros caminhos.
Em segundo lugar, significa acreditar que esse algo, uma vez revelado, possa mudar a relação entre as pessoas e as coisas.
A arte de Nuno nos diz que as coisas não falam. Da fenda entre as coisas e os significados, suas obras brotam como uma erupção vulcânica. Expõem o lado amorfo, magmático do mundo -sua face escondida.
É significativo o uso que esses trabalhos fazem do orgânico. Que a obra se assemelhe a um organismo é, tradicionalmente, a garantia de uma mediação entre nós e os objetos inanimados. Injetando vida nas pedras e nos pigmentos, a arte testemunha que um contato com o mundo é possível.
As obras de Nuno também têm vida, mas é uma vida completamente alheia. Instalam-se entre nós e o mundo, e se desenvolvem segundo uma lógica própria, que não podemos mais controlar. São seres, mas não se parecem conosco. No entanto, sem essa estranheza radical, seríamos projetados no vazio pela força centrífuga de uma produção de informações sempre mais acelerada e sempre mais inconsistente. O silêncio da matéria morta, desespiritualizada, nos mantém em órbita. Cabe a nós preservá-lo.

domingo, 7 de setembro de 2008


JULIETTE THE BEST
Por Júlia Jups
"Eu sei que vocês pensam que me conheciam melhor do que isso", canta Juliette Lewis
na música título do álbum "You're Speaking My Language". De fato mais uma faceta da
cantora/atriz vem à tona neste disco da banda Juliette and The Licks, lançado em 2005
Na época ainda era mantida a formação, com Todd Morse e Kemble Walters
(guitarristas), Paul Ill (baixo) e Jason Morris (Bateria).
Nem um pouco convencional, a atriz que já foi indicada ao Oscar mostra neste
seu lado musical, com direito a comparações que passam pela excentricidade de P.J.
Harvey até o lado passional de Patti Smith. "A música é uma experiência visceral para
mim", declara Lewis sobre a "persona" que interpreta no palco.
Foi durante a turnê "Vans Warped" (2004), com mais de 500 mil expectadores em
aproximadamente 20 países, que a banda decidiu explorar melhor sua identidade. O
álbum apresenta diferentes influências da banda, com incursões pelo alternativo e pela"new wave" sem esquecer da velha escola do rock´n´roll.
Destacam-se as faixas "You're Speaking My Language", que ficou 35 semanas em destaque nas paradas inglesas, "Got Love to Kill" que superou a marca, ficando 56 semanas e "Seventh Sign" que chama atenção com um estiloso jeito de fazer música, colocando a banda na veia do rock mundial.
“A música é minha expressão criativa mais completa”. Cansada de colocar sua energia e sensibilidade apenas em personagens criados por outras pessoas, Juliette Lewis decidiu ser ela mesma e se dedicar a uma paixão que tem desde pequena.
Foi assim que em 2003 ela chamou uns amigos para formar a Juliette And The Licks, expressão do rock puro, cru e sexy. Como eles mesmos gostam de dizer, os Licks não são uma banda formada em estúdio que saiu para o palco: eles começaram já com a energia da performance ao vivo, e suas músicas refletem isso da maneira mais explícita possível.
O primeiro EP da banda, “...Like a Bolt of Lightning”, foi lançado em 2004 e logo em seguida veio o primeiro álbum “You’re Speaking My Language”. Jason Morris e Paul III (baterista e baixista, respectivamente) saíram pouco antes do começo das gravações do segundo CD, “Four On The Floor”. Ainda sem músicos definidos para a substituição, Todd Morse e Kemble Walters (guitarristas) acabaram gravando o baixo de todo o CD, ao mesmpo tempo em que Dave Grohl foi convidado para gravar a bateria. O atual vocalista e guitarrista do Foo Fighters e ex-baterista do Nirvana não apenas gravou toda a bateria do CD maravilhosamente bem, como chamou os Licks para abrirem um show do Foo Fighters no Hyde Park em Londres no dia 17 de Junho de 2006.
A partir daí, Juliette And The Licks não pararam de tocar. Fizeram turnê nos Estados Unidos e em vários lugares da Europa. A turnê mais recente começou em setembro de 2006 e a agenda está lotada até dezembro de 2008!
Nesse ano, mais um desfalque na banda: Kemble Walters, que era o segundo guitarrista, anunciou sua saída no dia 15 de Julho de 2007. Os shows têm sido apoiados por Emilio Cueto, que não foi anunciado como guitarrista oficial dos Licks, mas que está presente em fotos promocionais, teasers e entrevistas.
Por onde passam, Juliette And The Licks conquistam admiradores por sua visível paixão pelo rock e sinceridade nas letras e atitudes. Por aqui não é diferente. Ouça, veja, preste atenção.


AO MEU PAI
(Esse texto eu fiz, como uma simples homenagem que presto ao meu pai, no dia em que a Câmara de Vereadores de Natal, na pessoa do Vereador Hermano Morais, concedeu ao meu pai, o título de Cidadão Natalense)

De uma vida que se sabe, feita de muito amor e paixão. Amor pelo povo. Paixão pelos seus enormes e preciosos tesouros. Como desafiando noites e dias. Como uma onda do mar que banha seus pés e revela a figura humana tão simples e preciosa.
Quando dos seus primeiros passos, por sobre a areia branca, telúrica; como um arco que pinta e singra seu olhar poético e litorâneo. Um menino, um rapaz que se revela pescador do que o seu coração, como porto-ilha de descobertas e verões, colhe por entre as ruas da sua cidade que ressoa sais e cais.
Depois, na cidade que libertou seus escravos, ele já coleciona o garimpo de um sentimento que o faz refletir sobre o cotidiano das coisas e das suas enormes sombras.Lê poemas e fabrica sonhos. Alimenta com seus pés e passos, a vontade de conhecer a cidade onde brotarão suas histórias e conquistas.
Assim, entre raios de sol e rios de dunas, o poeta acontece. Conhece com o tempo, que é capaz de demonstrar o amor pelo que faz, a razão de um cotidiano tão hóspede das suas observações e dos seus apontamentos, de uma diversidade onde trafegam seus faróis e cumes.Se aproxima na esquina do continente, dos seus costumes e danças. Fica feliz quando sente a alma do povo pulsando por entre seus cordões e vielas.
Vara noites e dias a procura da riqueza de um baú, que faz Deífilo, se encantar e ser encantado pelo que descobre.Desfila relíquias, lapida o olhar que registra a evolução das moças e dos marujos. Celebra Cascudo como a revelação de um homem que muda com o seu límpido andar, o roteiro dos seus rios e apogeus. Se aproxima e se apaixona pelas estórias tão verdadeiras e únicas. Não cansa de aprender onde o povo mora, vive, pulsa e é feliz.Anuncia barricadas, aponta rumos de preservação da memória da sua gente.
Entre os seus, mulher, filhos, amigos, simpatizantes e anônimos.E ele se agiganta e se enobrece. Como deve ser, para quem da vida colhe o prazer de ser feliz, pelo simples fato de estar vivo, e pela eternidade da sua memória.

Cgurgel

sábado, 6 de setembro de 2008



FERRO VELHO

te digo:
é mal

sei
que tudo é massa disforme
como assim será
ao que mais o mundo acompanhar dessa terra

formigas
há muito, formam exércitos
dobram esquinas de dores
alinham o desprezo como cinismo
como uma vaga onde se estoca esperma e espécie

e te calas de calos
como quem diz qual a parte que já destronas de vez

já não se vêem mais flôres no jardim de casa
o homem comeu-se a si mesmo
e o crepúsculo
é uma infinidade de fracassos contemporâneos


das muitas mãos saem síncopes
de miolos vazios

assim ás
para quem pensa que o índivíduo
sobrevive a si mesmo.

Cgurgel

sexta-feira, 5 de setembro de 2008


O CÉREBRO ELETRÔNICO PARECE MODERNO?
por Philip Jandovsky

Após o bem sucedido primeiro álbum “Onda Híbrida Ressonante”, o Cérebro Eletrônico criou um repertório de canções genuinamente pop, onde o cinema, o dadaísmo, a literatura fantástica e a “mojicália” estão estampados em notas e letras neste novo disco intitulado “Pareço Moderno” e produzido por Alfredo Bello.
Vale dizer que da costela do Cérebro Eletrônico veio a banda Jumbo Elektro e, desde então, as duas se entendem muito bem: o Jumbo em ‘embromation’ e o Cérebro em português bem claro.
Letras sarcásticas, pós-políticas, apocalípticas, embalsamadas por belas harmonias, reverenciam principalmente o movimento Tropicalista, Sérgio Sampaio, Raul Seixas, Rita Lee, Júpiter Maçã, André Abujamra e grupos como Pato Fu, Os Mulheres Negras e muitas bandas contemporâneas do Brasil. O momento é raro, de ebulição e demolição dos velhos padrões estabelecidos.
O disco conta com a participação de André Abujamra, Helena Rosenthal, Fernando Alves Pinto, Moisés Santana, Tulipa Ruiz, Alfredo Bello, Adalberto Rabello, Marcelo Monteiro, Gustavo Ruiz, Felipe Flip, Gui Cotonete e Zé Pi da banda Druques. O disco também apresenta a inédita canção “Talentoso” do compositor Júpiter Maçã e “Tobogã pro Inferno” de “Peri Pane” da banda O Degrau.
A banda é formada por Tatá Aeroplano (voz e efeitos com brinquedos), Fernando Maranho (guitarra e voz), Izidoro Cobra (baixo e voz), Dudu Tsuda (teclados e voz), Gustavo Souza (bateria e voz). Os integrantes do Cérebro Eletrônico participam de outras bandas como: Jumbo Elektro, Luz de Caroline, Trash Pour Quatro, Dona Zica, Zeroum, Frame Circus, Junio Barreto, entre outras.

Cérebro Eletrônico
O Cérebro Eletrônico é certamente uma das mais criativas e excitantes bandas surgidas da cena alternativa de São Paulo no início do século XXI. Transcendendo os limites tradicionais de gêneros, a música da banda desafia as simples definições enquanto flutua entre a eletrônica, o rock, o pop e a MPB. Ao contrário de outros artistas que foram atraídos pela idéia de canibalismo musical proposto pelo tropicalismo, o balanceamento eclético de gêneros proposto pelo Cérebro Eletrônico não soa forçado ou auto-centrado.
As simples e estranhas melodias, as letras inteligentes, o frescor do som e a elegante produção garantiram ao Cérebro elogios fervorosos da crítica e um público fiel e entusiasta que não pára de crescer.
As melodias da banda são diretas, muitas vezes atraídas pela maneira familiar da cultura pop, mas ao mesmo tempo com arranjos não convencionais e surpreendentes. Tatá Aeroplano, compositor e vocalista da banda, disse em uma entrevista que grande parte da música moderna se parece com os filmes de Hollywood nos quais logo no início você geralmente já sabe o que acontecerá no meio e também prevê e antecipa o final. O Cérebro Eletrônico quer fazer exatamente o oposto com sua música: surpreender o ouvinte.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008



VOZEARIA

entre o suspiro e espinhas
como ao mar que me leva e traga
como uma cântica overdose
que balmasquê me louva
como e durmo por sobre jardins suspeitos
entrelaço que me rouba a cena do espelho que me óbito
pulsa kermesse de harpa e gerúndios
assim bulo no céu da boca que voce quer.

Cgurgel